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O fenômeno do skate feminino no Brasil pós Jogos Olímpicos

Victoria Bassi treinando manobras na modalidade Bowl / Reprodução: CBSK

De acordo com dados divulgados pela rede social Twitter, o skate foi o 4º esporte mais comentado mundialmente durante os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021. Após a modalidade, até então inédita nas Olimpíadas, conquistar a atenção de diversos espectadores ao redor do mundo, o interesse foi além das mídias sociais, despertando o interesse de milhares de pessoas. Nas pistas brasileiras, as atletas mulheres tiveram um papel fundamental para a popularização dessa febre que vem conquistando jovens e adultos ao longo dos últimos meses.

Apesar do esporte ter sido trazido ao Brasil mais de sete décadas atrás, há quem diga que a presença feminina nesse meio só chegou a ser realmente consolidada nos últimos 20 anos. Isso porque, embora mulheres skatistas estivessem marcando presença na cultura de rua desde muito antes, a marginalização dessa prática fez com que o número de atletas do gênero masculino se tornasse dominante. Afinal, por que os pais incentivariam suas filhas a praticarem um esporte que costumava ser associado, de forma equivocada e pejorativa, ao desemprego, à criminalidade e ao uso de drogas?

Graças à chegada de uma era na qual estereótipos desse tipo são cada vez mais questionados, e ao apoio da recém criada Confederação Brasileira de Skate (CBSK), tais barreiras que envolviam o esporte têm sido gradualmente destruídas pela noção coletiva de que andar sobre rodas pode ser uma forma efetiva de diversão e resistência. Além disso, o fato de, em 2021, uma menina do interior do Maranhão ter encantado o mundo com suas manobras, é apenas um dos vários exemplos que confirmam essa afirmação.

Rayssa Leal após receber sua medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio / Reprodução: CBSK

Atletas inspirando uma geração

Aos 13 anos, Rayssa Leal fez história nas pistas de Tóquio após se tornar a 5ª medalhista mais jovem da história das Olimpíadas. Ao lado das campeãs mundiais Letícia Bufoni e Pâmela Rosa, a skatista provou que, apesar dos desafios, o Brasil tem potencial para dar continuidade ao seu legado como referência global na modalidade de skate street feminino. Já no skate park, as atletas brasileiras Dora Varella, Yndiara Asp e Isadora Pacheco não alcançaram o pódio, mas mostraram a todos que, independente dos resultados em competições, o espírito esportivo é o que importa.

“O Street é mais fácil de ser compreendido: é a rua na pista. Corrimões, escadarias, paredões… Tudo que pode ser encontrado na rua é levado para uma pista. O Park é mais complexo: um bowl é uma pista que tem formato de piscina e tem paredes de 3, 4 metros. Quando a pista é um bowl, mas com paredes menores, são os chamados banks. Quando se mistura o bowl com banks e alguns elementos de street, você tem o Park. Nessa modalidade, os obstáculos conversam entre si.”

Trecho retirado de artigo do portal Globo Esporte

Inspirada pelas histórias das atletas olímpicas, a artista freelancer Isadora Silveira está entre as milhares de jovens que, ao assistirem à transmissão das Olimpíadas de Tóquio, decidiram dar uma chance ao skate na sua rotina. “Além delas e da saudade [de praticar o skate], eu andava quando era mais nova, e precisava achar uma forma de me exercitar que fosse prazerosa. Não consigo ir à academia, por não gostar do ambiente”, diz a jovem sobre se sentir motivada a praticar o esporte após acompanhar as atletas brasileiras em ação.

Assim como Isadora, a publicitária Natália Lima também se sentiu motivada a retomar as atividades sobre rodas após assistir a transmissão dos Jogos Olímpicos. Segundo ela, “Muita gente ainda pensa que o skate se resume ao entretenimento, e não é assim. Ele tem suas regras, tem seus campeonatos, tem seus treinos… Então, para mim, como uma pessoa que pratica o esporte, o reconhecimento trazido pelas Olimpíadas é algo muito importante”.

“O skate engloba todas as classes sociais e todas as idades. Todo mundo fala que ele é pra todo mundo, e essa é a verdade”.

Natália Lima, publicitária e administradora do portal Geek & Feminist
Dora Varella, Yndiara Asp e Isadora Pacheco representando a Seleção Feminina de Skate Park
em Tóquio / Reprodução: CBSK

A marca feminina e LGBTQIA+ na história do skate brasileiro

Desde sua chegada ao Brasil na década 1960, o skate tem feito parte de uma série de movimentos sociais importantes para a formação da cultura nacional. Em meados da década de 1970, os atletas Maninho, Quinzinho, Alexandre Calmon, Luizito e Marcelo Neiva revolucionaram o skate carioca e deram início à ascensão do que, hoje, se tornou uma das cenas competitivas mais promissoras do mundo. Já a partir dos anos 90, o cantor Chorão revolucionou a integração entre a música e o esporte inserindo-o em várias de suas composições na banda Charlie Brown Jr.

Em 2021, chegou a hora das mulheres e pessoas não-bináries (como foi o caso de Alana Smith no skate street) mostrarem ao mundo que, nessa nova era, quem chegou para inspirar a juventude foram elas. Como relembrado pela skatista profissional Karen Jonz, que, recentemente, marcou as transmissões do SporTV com seu humor e carisma, esse é o momento no qual a parcela de skatistas que sempre foi ignorada pela mídia e por jurados tem a chance de reafirmar o seu espaço em meio a essa cultura. Pelo tamanho da atenção que esse tema vem recebendo nas últimas semanas, ela está completamente correta.

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