“Saber onde fica o clitóris é conhecimento, saber onde fica o próprio clitóris é poder”, defende a educadora sexual Emily Nagoski – escritora do livro “A Revolução do Prazer” – na nova minissérie documental Fundamentos do Prazer, lançada em março de 2022 pela Netflix. A frase resume bem os propósitos do documentário, que informa, educa e traz ao debate social o prazer sexual, de maneira diferente do estigmatizado e narrado por séculos pela perspectiva heteronormativa e masculina, seja nas escolas ou nas produções culturais e científicas.
A série, dirigida por Niharika Desai – que também dirigiu Gaycation, de 2016 -, constrói sua narrativa misturando relatos pessoais diversos junto a uma abordagem científica sobre o tema, dividido em três recortes: corpo, mente e relacionamentos. Essas áreas, convergidas com os temas de saúde e prazer, são desmistificadas nos três episódios. É importante destacar que a série diferencia sexo de gênero e propõe incluir e debater experiências sexuais trans e não binárias, além de relatar as vivências sexuais de diferentes mulheres: negras, muçulmana, asiática, árabe, cristãs, lésbicas, bissexuais e mulheres de diferentes idades
O primeiro episódio discorre sobre ‘o corpo’ e desmistifica temas como orgasmo, masturbação e o próprio sistema genital feminino, área que é envolvida pela vulva, termo recorrentemente substituído por “vagina”. São cinquenta minutos de reparação histórica e educação sexual sobre nossos corpos. As especialistas convidadas são assertivas: prazer sexual é mais do que necessidade física, é uma questão de saúde pública. Nesse ponto, a série pontua: “não é só a saúde da mulher que precisa melhorar, para transgêneros e não-binários, a saúde ainda tem um longo caminho a percorrer”.
A parte física do nosso corpo é apenas uma introdução a um tema interdisciplinar. A partir do segundo episódio, a mente – “o portal mais importante para o prazer sexual” (frase do filme) – é o assunto central. O episódio mostra o que acontece no nosso cérebro ao sentir e lidar com o prazer. Temas como saúde mental, a importância da busca pelo autoconhecimento e até os efeitos da pílula anticoncepcional no organismo são pautados pelas especialistas.
O terceiro episódio foca em explicar as relações humanas que envolvem nossas sexualidades. A importância da comunicação e da conversa entre parceires são ressaltados e tabus sobre pornografia, desmistificados. Essa parte conta com a participação da diretora de filme pornô Erika Lust, cujos filmes contrapõem narrativas heteronormativas, misóginas e machistas.
“Confiança é saber o que é verdade sobre seus corpos, sobre sua sexualidade, sobre como seu cérebro funciona e a cultura em que você vive”
Emily Nagoski, educadora sexual em Fundamentos do Prazer
O documentário faz bom uso do alcance do streaming no audiovisual para expor temas estigmatizados e propor novos debates à sociedade. Como mostra a série, a comunicação é uma das melhores ‘técnicas’ para melhorar as nossas relações sexuais, mas também serve para romper barreiras estruturais.