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Professor da PUC Minas defende a decolonização de valores

o autor Thiago Teixeira posicionado levemente à direita do centro segurando seu livro de capa alaranjada, que está ao centro próximo à margem inferior da foto. O fundo da foto é um verde acinzentado com luminosidade no meio, formando um degradê de luz. Há duas vigas cilindricas pretas coladas horizontalmente na parede, próximas a uma mesa de madeira clara dividida em sessões por duas vigar metálicas amarelas retangulares que estão uma em cada lado do Thiago.

Thiago Teixeira feliz com o lançamento de seu livro

A luta contra a ética colonialista que rege as sociedades contemporâneas tem sido intensificado em anos recentes em função de debates das mais diversas áreas do conhecimento que buscam uma perspectiva decolonial para suas práticas e reflexões. Descontinuar essa colonialidade manifesta-se direta e indiretamente no discurso antiracista, anticapacitista, anti-sexista, dentre outros movimentos que reverberam em mudanças, ainda que tímidas, nas estruturas sociais e no imaginário coletivo. É sobre isso que trata o novo livro do filósofo e professor da PUC Minas Thiago Teixeira.

Intitulada “Políticas de descontinuidade”, a obra foi lançada em fevereiro de 2024 pela editora Queer Livros, assim como outros livros do professor, que atua no Departamento de Filosofia da PUC Minas. Thiago Teixeira explica que o livro foi um desdobramento de suas duas outras obras, Inflexões éticas e Decolonizar valores, escrito com o objetivo de ser uma denúncia, que expõe o interesse dos sistemas discriminatórios pela manipulação do valor moral e das organizações sociais. “Se vamos falar de ética, precisamos quebrar essa continuidade de valores como racismo, misoginia, homofobia, capacitismo e outros tantos, que são formas de organizar a realidade para continuar enfraquecendo as capacidades dos sujeitos”, detalha o autor.  

A obra é dividida em três capítulos, que elaboram argumentos sobre a ética e a descontinuidade de narrativas de poder e sobre valores que estruturam violências sociais, além de tratarem do interesse na influência e na manipulação da organização social e do valor moral. O autor comenta que seus livros são complementares, sem que haja uma sequência específica de leitura sugerida, já as obras revisitam temas a partir de informações e óticas diferentes, enriquecendo a experiência do leitor. A natureza de seus estudos é construída em diálogo com teóricas femininas negras, teóricas e teóricos que divergem da norma heterosexual e cisgênero, filosofia latino-americana, e filosofias anti-discriminatórias, como Audre Lorde, Judith Butler, Ngozi Adichie e Silvio Almeida. 

Na perspectiva do professor, a  ética é o alicerce moral sobre o qual uma sociedade se constroi, moldando relações interpessoais, institucionais e políticas. Quando fundada por narrativas normativas, que propagam valores culturais, incluindo os sistemas discriminatórios, a ética perpetua injustiças e subjuga grupos não-hegemônicos, tais como pessoas com deficiência, pessoas LGBTQIAPN+. Segundo o autor, os efeitos dessas narrativas se manifestam em  estereótipos, preconceitos e visões de mundo enraizadas em ideologias utilizadas para justificar a marginalização e exclusão de grupos minoritários, legitimando práticas que impeçam uma vida digna.

Em sociedades marcadas pelo racismo estrutural, por exemplo, a narrativa constitutiva das relações desumaniza e inferioriza pessoas das raças e etnias subjugadas, justificando a exclusão social e econômica. Da mesma forma, narrativas sexistas sustentam sistemas de opressão de gênero, mantendo a ideia de inferioridade das mulheres. Esses sistemas discriminatórios são alimentados por estruturas de poder que privilegiam certos grupos em detrimento de outros. A narrativa do que é certo e do que é errado é estruturada para reforçar essa hierarquia social, perpetuando estruturas de marginalização de grupos não hegemônicos. Na perspectiva das políticas de descontinuidade, portanto, o autor propõe uma nova visão para essas perspectivas, inaugurando discussões mais propositivas sobre as questões sociais que continuam sendo colocadas à margem.

“Eu gosto de escrever para que eu seja lido, me incomoda a produção filosófica que tem uma distância do interlocutor, como preciosismo, como se isso fosse sinônimo de intelectualidade, eu penso exatamente o contrário, a nossa intelectualidade acontece no trânsito, na troca e eu entendo que meus livros tem uma linguagem mais palatável.” Afirma o Mestre em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE); Doutor em Ciências Sociais pela PUC Minas.

Reportagem: Mariele Ferreira e Rayssa Moura.
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