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Popularidade da NBA cresce entre brasileiros

A temporada 2019/2020 do basquete norte-americano concretizou um marco na construção da popularidade da NBA no Brasil, movimentando telespectadores em todo o país. Nem mesmo a pandemia da Covid-19, que obrigou a realização da sequência do campeonato em uma bolha sanitária em Orlando, foi capaz de frear o sucesso do esporte no Brasil. 

Devido ao atraso da temporada, com a suspensão da liga no dia 11 de Março, a NBA passou um período de hiato, necessitando da realização de uma bolha higiênica para a realização do restante do campeonato. Em seu retorno teve de arcar com a competição incomum de outros esportes americanos em audiência no horário nobre, como a NFL (liga de futebol americano) e a MLB (liga de beisebol), circunstâncias que a NBA jamais enfrentou em sua fase de eliminação. 

As modalidades esportivas mais tradicionais nos Estados Unidos estão tendo ganho de popularidade no Brasil. Em um período de um ano, os jogos da NBA passaram de apenas uma transmissão em português na TV fechada (ESPN), para mais opções aos fãs de basquete. Hoje a NBA tem transmissões na TV aberta pelo grupo Bandeirantes, nos canais ESPN e SporTV pela rede fechada, e ainda pelo aplicativo de streaming oficial da liga, o NBA League Pass, que passou a oferecer transmissões em português.

“A pesquisa mais recente encomendada pela NBA, este ano, indica mais de 41 milhões de brasileiros como fãs de NBA no país, dobrando o número da pesquisa de 2017, quando esse número era de 21 milhões de fãs da liga”, diz Rodrigo Vicentini, head da NBA no país.

Conforme Lucas Nepomuceno, criador do podcast sobre basquete Café Belgrado, o Brasil é um país que comenta muito sobre NBA no mundo, e hoje o número de pessoas que acompanham os jogos da liga (cerca de 40 milhões de pessoas) equivale ao tamanho da torcida do Flamengo, o mais popular dos clubes de futebol.  

Parte da popularização se deve ao esforço da liga para expandir a audiência global, como exemplo estão o acesso ao League Pass (aplicativo de streaming da liga) na língua portuguesa e a abertura de dez lojas da NBA pelo país, além de uma megastore (a quarta maior do mundo).

Para o head da NBA, a melhor definição da NBA é a experiência para o fã, esteja ele onde estiver, e esse é considerado o maior desafio da marca no Brasil e ao redor do mundo.  O objetivo da liga é fazer com que os torcedores tenham a melhor experiência possível seja nos ginásios seja por meio das transmissões, com conforto e emoção.

Jogadores engajados em questões sociais


Muitos jogadores que entraram para a liga recentemente, como Zion Williamson, Luka Doncic, Ja Morant, Jayson Tatum e Trae Young são essenciais para a aproximação do público com o jogo, pois, além de serem extremamente talentosos e garantirem o futuro da liga, no que diz respeito às disputas, são atletas que estão intimamente ligados a questões sociais, como pudemos ver na paralisação feita pelos jogadores da NBA durante os protestos antirracistas nos Estados Unidos.

De acordo com a professora da UFRR, Tatiane Hilgemberg,  doutora em Comunicação pela UERJ e especialista em Gestão do Esporte pela UFJF, posicionar-se política ou socialmente pode ser uma faca de dois gumes, por um lado pode aproximar o atleta de fãs que se veem representados ou simpatizam com a causa, mas ao mesmo tempo pode afastá-lo daqueles que acreditam que deve haver uma separação entre esporte e política, ou esporte e a vida social.

Diferente de casos como a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) que coibiu as manifestações antirracistas de Lewis Hamilton, e  a polêmica envolvendo a brasileira Carol Solberg e o grito de “Fora Bolsonaro”, a NBA apoia a voz social de seus jogadores, aceitando a paralisação da liga durante os protestos nos Estados Unidos e usando a frase “Black Lives Matter” em todas as quadras durante a fase final da última temporada.

“A NBA se colocou em posição de colher os frutos agora e continuar colhendo por muito tempo, porque soube valorizar e vender o seu produto. Os principais jogadores da NBA são ícones globais, fenômenos das redes sociais, e a NBA os empodera para que suas faces e vozes sejam vistas e ouvidas”, afirma Nepomuceno.

O impacto sobre a liga nacional, o NBB

Questionado sobre um possível impacto do aumento da audiência da NBA para o Novo Basquete Brasil (NBB),  Lucas Nepomuceno é enfático: “A diferença do basquete jogado pelos times da NBA e os times do NBB é gritante. Não dá pra esperar que o público acompanhe a liga com a mesma atenção simplesmente por gostar da NBA”. Mesmo com o recorde de audiência nas finais da NBA, o Brasil continua sendo um país que dá pouca atenção ao basquete, e essa constatação é nítida ao olhar para os investimentos no NBB, que perdeu alguns patrocínios institucionais antes mesmo da pandemia e, conforme os dados divulgados pela Liga Nacional de Basquete (LNB) perdeu também audiência. O público total que acompanhou as  finais do NBB em todas as plataformas em 2019 foi de 1,7 milhão de espectadores, contra 2,2 milhões do ano anterior. 

Questionado sobre a relação entre a marca da NBA no Brasil e o basquete nacional, Vicentini diz que existe um diálogo muito próximo entre a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e a LNB, o que é importante, porque são as entidades que desenvolvem o esporte no Brasil.

Temos uma parceria com a LNB, promovemos muitas ações nestes últimos seis anos, dividindo experiências e melhores práticas, e todos temos o mesmo objetivo: que o basquete seja cada vez mais forte em quadra, mais organizado fora dela e que vá além do esporte, que leve entretenimento, conteúdo e diversão para os fãs e suas famílias.

Rodrigo Vicentini, head da NBA no Brasil.
Reportagem desenvolvida por Caio Machado, Eduardo Camargo, Iuri Cerqueira, Luiz Tonon, Marilene Ramos, Matheus Pacheco e Nivaldino Sami para a disciplina de Apuração, Redação e Entrevista, no semestre 2020/2.
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