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Os riscos da Delta, variante do coronavírus que circula no Brasil

Ilustração digital do novo coronavírus

Ilustração digital do novo coronavírus. Viktor Forgacs / Unsplash

No dia 20 de março, a Secretaria de Saúde Estadual do Maranhão confirmou, pela primeira vez, a presença da variante Delta (B.1.617) em seis tripulantes do navio MV Shandong da Zhi, que estava ancorado no litoral do estado. Até o final de maio, ela havia sido identificada em, pelo menos, mais três estados, dentre eles Minas Gerais.

Com o passar dos meses, a variante parece estar em ampla circulação no país. Lucas Zanandrez, Bacharel em Biomedicina e um dos apresentadores do canal no YouTube Olá, Ciência,  acredita que: “já que as fronteiras não foram fechadas, nós deixamos o vírus circular de forma deliberada”.

Histórico da Delta

A variante surgiu na Índia e, rapidamente, causou o saturamento do sistema de saúde local, colocando o país como um novo epicentro da pandemia. Segundo Lysandro Borges, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), doutor em Bioquímica e dono de um canal no YouTube que leva seu nome, no dia 10 de maio a cepa já havia sido identificada pela OMS como variante de preocupação.

“Isso se deve ao fato de ela ter mutações na região spike, que é a espícula que o vírus utiliza para adentrar na célula e se replicar. Ela é mais transmissível e foge do sistema dos anticorpos neutralizantes”.

Lysandro Borges
Ilustração científica do novo coronavírus. Os spikes estão em verde / Fusion Medical Animation via Unsplash

O erro da gestão indiana, de acordo com o professor, foi o aumento da confiança diante de um bom enfrentamento da primeira onda, o que fez com que flexibilizassem a reabertura da economia, gerando grandes aglomerações, que possibilitaram o surgimento de novas linhagens do vírus resistentes à imunidade natural da doença, o que aumentou descontroladamente os casos.

Estes erros, segundo Lucas Zanandrez, foram os mesmos do governo brasileiro, conforme relatório da OMS publicado no dia 10 de maio: “Em ambos os países, a reabertura do comércio, a realização de eventos religiosos, festas e aglomerações sociais, culminaram em um ambiente ideal para a circulação do vírus. É importante ressaltar que a onda indiana só parece maior do que a onda brasileira, mas não é”.

O youtuber acredita que essa impressão de que a onda indiana é maior ocorre devido ao grande número populacional do país. Porém, em números relativos, referentes à quantidade por 100 mil habitantes, a Índia ainda não superou os números brasileiros. Caso isso ocorresse, os números na Índia seriam de quase 20 mil mortes diárias e um total de óbitos superior a 3 milhões.

Variantes prejudicam o controle da pandemia

No Brasil, já foram detectadas outras variantes do coronavírus, como a P1 (Gama) e a P4 (ainda não nomeada). Segundo Lysandro Borges, as variantes que surgiram em território nacional “têm mutações compartilhadas com a variante da Índia, o que faz com que elas sejam mais efetivas, escapando do sistema de anticorpos”.

Segundo ele, é possível que a variante Delta possa piorar a crise no Brasil mesmo que, ainda não tenhamos estudos suficientes para dizer qual delas é mais transmissível: “Até porque não há um país com a predominância das duas para que possamos compará-las”, completa Lucas Zanandrez.

Para os especialistas, o aumento de casos não será devido à nova variante. A terceira onda já vem se consolidando no país, e a B.1.617 só vem para agregar a este número. O principal motivo do aumento dos casos são as flexibilizações das medidas de prevenção e o ritmo lento de vacinação no Brasil.

De acordo com Lucas Zanandrez, o melhor passo para controlarmos a crise seria o foco no tripé da prevenção: uso de máscara, ventilação de ambientes e distanciamento social. “Já para acabarmos com a pandemia será necessário a vacinação em massa”, completa.

Na velocidade em que estamos, com apenas 10% da população vacinada em junho de 2021, as ações não serão suficientes para segurar uma nova onda de casos. “Se vacinarmos 600 mil pessoas por dia, sem pausas, levaremos um ano e seis meses para ter 70% da população imunizada. No ritmo que estamos hoje, levaremos três anos para vacinar a mesma proporção”, lamenta o professor Lysandro Borges.

Matéria desenvolvida durante a disciplina Jornal Laboratório no semestre 2021/1.
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