O período de chuvas em grandes cidades brasileiras sempre traz preocupação aos moradores. Enchentes, desabamentos e falta de energia são problemas constantes enfrentados pelos cidadãos das mais variadas cidades do Brasil. Alguns desses problemas são causados pela impermeabilização de cursos d’água, gerando assim, os chamados rios subterrâneos.
Afinal, o que são os rios subterrâneos?
Todo curso d’água que flui sob o solo é considerado um rio subterrâneo. Portanto, estes também podem ser naturalmente formados, por exemplo, em cavernas. Nas cidades, os rios subterrâneos são formados durante o processo de urbanização, quando canais hidrográficos são canalizados e impermeabilizados por asfalto ou cimento durante o processo de pavimentação, construção de vias, expansão de áreas urbanas etc. Muitos rios e córregos sofrem deste processo em grandes capitais, o que gera vários problemas durante períodos de chuva intensa.
Os transbordamentos de água
Segundo o professor Alessandro Borsagli, mestre em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), os transbordamentos de água ocorrem quando altos índices pluviométricos caem em áreas onde os cursos d’água estão impermeabilizados ou restringidos.
“Á água não penetra no solo e corre para o fundo de vale do canal, o que causa os transbordamentos”. Borsagli explica que a formação dos rios subterrâneos está diretamente ligada aos problemas causados por enchentes nas vias públicas. Muitas dessas vias, inclusive, não foram planejadas para receber os cursos d’água, sejam eles a céu aberto ou canalizados abaixo do solo.
O professor Alessandro Borsagli tem vários livros publicados sobre o tema em Belo Horizonte, como “Rios Invisíveis da Metrópole Mineira”.
Mesmo em áreas permeáveis podem acontecer os transbordamentos de água, dependendo da magnitude da precipitação, pois, segundo Borsagli, este é um processo natural, que sempre ocorreu, especialmente em meios urbanos, e que pode ser mitigado, mas não erradicado. O asfaltamento dos rios e córregos nas grandes cidades apenas torna o processo mais nocivo aos habitantes, pois aumenta a quantidade de água transbordada e a velocidade com que ela corre, já que ela não encontra solo para absorvê-la e, caso encontre, poderá rapidamente ficar encharcado.
“Com a supressão das várzeas e a impermeabilização do solo com a urbanização, desde por volta de 1930, a frequência de transbordamentos de fundos de vale em Belo Horizonte aumentou.”
Alessandro Borsagli
Alternativas
Alessandro Borsagli já pensou em alternativas para amenizar os impactos causados pelas chuvas em cidades como Belo Horizonte: segundo ele, a retirada da cobertura de concreto/asfalto de vias que não precisam desta cobertura ajuda no escoamento mais seguro da água, pois parte dela entra no solo, diminuindo a velocidade de escoamento e evitando sobrecarregar os fundos de vale. O professor também sugere políticas públicas para reter o máximo de água possível nas vertentes e nas residências, além de sempre aumentar áreas permeáveis pela cidade. “Estas medidas podem ser aplicadas a curto e médio prazo, com pouco dinheiro e sem reabilitação de longa data nos cursos d’água”, afirma Borsagli.
Coletivo de arte sinaliza os rios subterrâneos na capital mineira
A artista plástica Isabela Prado iniciou um projeto em Belo Horizonte chamado “Entre Rios e Ruas”. O coletivo de arte visa espalhar placas pela cidade, sinalizando os canais d’água que fluem por baixo das ruas da capital.
A iniciativa, além de conscientizar a população sobre a existência dos rios subterrâneos, é de extrema importância para a manutenção destes, além de sempre manter o tema em pauta, sendo constantemente apresentado em palestras. O projeto, que teve início em 2006 por Isabela Prado, traz também a reflexão sobre o planejamento urbano e o meio ambiente.
Alessandro Borsagli também possui uma página no Instagram e um site com o nome Curral Del Rey. Entre os temas tratados pelo professor estão os rios submersos em Belo Horizonte.
Borsagli também faz um resgate da memória da capital mineira através de fotos e textos, buscando sempre trazer uma visão geográfica-histórica.