No dia 14 de fevereiro de 2020, a União das Federações Europeias de Futebol (UEFA) puniu o Manchester City impedindo o clube de participar de competições internacionais por duas temporadas. A alegação era de que o clube inglês teria inflacionado, de forma fraudulenta, os valores de seus patrocínios entre 2012 e 2016.
Em nota, a UEFA alegou que o clube não ajudou nas investigações e, além disso, teria que arcar com uma multa de 30 milhões de euros, aproximadamente 140 milhões de reais. A medida deixou os fãs de futebol em choque, por apresentar uma condenação tão agressiva.
O clube inglês ainda permanece nas disputas da atual Liga dos Campeões. Entretanto, o que fez a entidade máxima do futebol na Europa castigar os azuis de Manchester e, por outro lado, não afetar o dia a dia de outros clubes que tiveram julgamentos legais, por exemplo?
O impacto do fair play em times europeus
Em 2018, o poderoso Milan também foi alvo de punições da UEFA, sendo multado em 12 milhões de euros, além de sofrer sanções como restrições de inscrições quanto ao número de atletas, ao gigante italiano.
Tendo até 30 de junho de 2021 para regularizar sua situação financeira, o clube rubro negro foi penalizado após ser investigado por gastar mais do que o permitido, o que chamou a atenção da federação de futebol em questão.
Isso tudo ocorreu pela ação do Fair Play Financeiro, prática que visa promover um modelo de gestão em que clubes não gastem mais do que recebem. Há um teto financeiro indicado como limite de despesas, visando que clubes não fiquem em desequilíbrio com suas finanças.
O Colab conversou com Guilherme Alves, Gestor de Futebol pela CBF Academy, que analisa o modelo atual do Fair Play Financeiro:
“É importante enaltecer a importância do fair play financeiro, que é uma ferramenta de gestão que veio para ajudar os clubes a médio/longo prazo, mesmo que “imposta” pelas entidades que regulam o futebol europeu”, conta ele.
Segundo Guilherme Alves, até a última década, diversos dirigentes e cartolas dirigiam o clube como bem entendiam, sem se preocuparem com o pagamento de dívidas de mandatos anteriores e, muitas vezes, fazendo o contrário do recomendado: pegando empréstimos bancários pensando em contratações e pagamentos de dívidas de curto prazo.
“Com essa ferramenta, será possível mensurar melhor o trabalho dessas diretorias, além de punir os responsáveis diretos por causar problemas a médio/longo prazo”, avalia o gestor.
Amigo da gestão ou vilão dos clubes?
O modelo entrou em vigor em 2011 e, desde então, figurou como “vilão” para alguns clubes, mesmo sendo criado para ajudar na administração dessas instituições.
De acordo com as normativas de fair play, o Manchester City teria que injetar os valores referentes a investimentos do clube como renda direcionada ao patrocínio, ou seja, uma receita real e rentável aos negociantes envolvidos. Porém, os excessivos números financiados pelo seu proprietário, o sheik Mansour bin Zayed, que faz parte da família que governa a capital dos Emirados Árabes, Abu Dhabi, geraram grande desconfiança por parte da UEFA.
De acordo com o clube, o patrocínio anual, com exibição de marca na camisa, estádio e as divisões de base, pela Etihad Airways, que também pertence ao sheik, renderia 67,5 milhões de libras. Porém, a partir de documentos obtidos pela UEFA, comprovou-se que somente 8 milhões de libras foram destinados pela empresa.
Gestão consciente
É importante ressaltar que o Fair Play Financeiro não equilibra e sequer tem o objetivo de nivelar os jogos de futebol: apenas exige que os clubes sejam gerenciados de forma coerente e financeiramente responsável, sem que façam gastos desproporcionais, que possam prejudicar o futuro dos clubes.
A UEFA permite que o clube tenha prejuízos de, no máximo 5 milhões de euros, por três anos, podendo chegar a 30 milhões de euros se houver aporte de recursos por parte do acionista para cobrir a diferença. Custos com infraestrutura, categorias de base e futebol feminino são desconsiderados do cálculo.
Decisões distintas para diferentes clubes
O caso do clube francês teve um desfecho totalmente diferente em relação aos outros times. O Paris Saint Germain, pertencente ao Qatar Sports Investiments, foi muito questionado quando obteve direitos de compra para Neymar e Mbappé, um dos astros do futebol atual.
O clube desembolsou uma fortuna para que esses dois atletas pudessem vestir a camisa do clube parisiense e, para isso, o clube contou com o investimento da empresa patrocinadora, que injetou valor muito superior a seu mercado, supostamente para divulgar ações do turismo do país, Qatar.
Por parte da UEFA, não houve explicação para que o Paris não tivesse sofrido qualquer sanção. De acordo com a matéria feita pelo New York Times, a UEFA teria perdido o prazo para multar o Paris, depois de não conseguir acumular provas necessárias.
Especificamente no caso do Manchester City, as receitas maquiadas e a reincidência de já ter sido punido em 2014 podem ser consideradas como uma punição justa, para que sirva de modelo para os grandes e médios clubes. A exclusão do City em duas Champions League vai limitar os gastos e receitas do clube, além da multa de 30 milhões de euros.
Guilherme Alves comenta o caso da punição ao time de Manchester.
O Manchester City possui o direito de recorrer da decisão tomada pela confederação europeia. O setor jurídico do clube já encaminhou documentos legais para entrar com a ação de defesa, alegando inocência no caso. Ainda assim, o clube inglês permanece na disputa da atual Liga dos Campeões, torneio no qual está, momentaneamente punido de participar. Nas oitavas de final, o clube venceu o Real Madrid na partida de ida, na Espanha, e, aguarda o desmembramento do calendário para realizar a partida de volta, a ser disputada em Manchester.