Em 2022, o Minas Trend, evento de moda mineira, voltou ao presencial, depois de dois anos de pandemia em que foi realizado apenas online. Organizado pela FIEMG, o evento estabeleceu-se em Minas Gerais como um salão de negócios de moda que visa dar espaço para marcas mineiras e quebrar a bolha do eixo São Paulo-Rio estabelecida no mercado, além de aproximar lojistas e consumidores. Após migrar para o formato online em 2020 e 2021, o evento ocorreu sem os desfiles, carro-chefe da programação desde a primeira edição. A ausência das passarelas reduziu a procura do público e acabou por evidenciar ainda mais a falta de minorias no mercado da moda mineira.
Quem estava no Minas Trend?
Apesar da proposta inicial do projeto se basear no empoderamento de marcas locais e na exposição de novos empreendedores para o circuito da moda brasileira, eventos como o Minas Trend vendem também exclusividade e status, fatores relacionados com as classes mais altas e brancas. Nos dias em que a reportagem esteve no Expominas, foi fácil notar a ausência de pessoas negras, assim como pessoas gordas ou com deficiência. Entre o público presente, grande parte exibia peças de vestuário de luxo de marcas como Louis Vuitton e Gucci. Os artigos vendidos no local também retratavam a classe social alvo dos lojistas, com itens cotados a mais de R$500,00.
O evento, que já era associado a desfiles glamourosos de importantes marcas brasileiras, como Skazi e Tufi Duek, limitou sua 27ª edição ao salão de negócios e à realização de palestras educacionais. Essa limitação também contribuiu para a restrição do público a lojistas e pessoas com maior poder aquisitivo, visto que perdeu parte do apelo de ‘festa da moda’ para quem não é cliente de artigos de luxo. Sem os desfiles, o encontro torna-se apenas um shopping. Além disso, as palestras educacionais escolhidas abordavam temas que interessavam majoritariamente aos lojistas e não ao público comum. Nas apresentações em que a reportagem esteve presente, o pequeno auditório, que comportava cerca de 30 pessoas, estava vazio, com cerca de 10 pessoas por palestra. Entre os palestrantes, apenas um, o diretor executivo da C&A, Gustavo Narciso, era negro. Nenhum dos demais convidados eram pessoas gordas ou com deficiência. Entre o público que compareceu, a maior parte era formada por mulheres brancas.
No Brasil e no mundo, a moda reflete o racismo e a discriminação existentes na sociedade. Essa discriminação é visível na falta de tamanhos que atendam pessoas gordas e na faixa de preço já discutida acima. A exclusão de pessoas não-brancas desse meio se intensifica em países como o Brasil, onde 75% das pessoas em situação de pobreza são negras. Em relato sobre sua experiência na edição deste ano, a influenciadora digital e produtora de moda Bia Estevam diz que sentiu falta de mais pessoas negras no evento.
Fiz um conteúdo de como as pessoas negras estavam se vestindo por lá e tive que rodar muito para encontrar 10 pessoas
Bia Estevam
Para o consultor de moda e influencer Lourenzo (nome artístico), existe iniciativa para aumentar a diversidade, mas ainda falta representatividade.
Sabemos do esforço para inclusão da diversidade de pessoas pretas no espaço, é legítimo. Mas vi pouco protagonismo dos meus. Todos devemos nos questionar essa ausência.
LOURENZO
Ao idealizar eventos de moda, a acessibilidade sempre é pautada, mas, como no caso desta edição do Minas Trend, não é posta em prática. A moda acessível ultrapassa o movimento de moda para todos os corpos, sendo essencial que ela seja também moda para todas as classes. Para muitos consumidores e produtores, os lojistas não têm obrigação de vender produtos acessíveis ou abaixar o preço, visto que tais marcas não tem produção rápida ou em grande escala, o que aumenta o valor. A próxima edição será nos dias 2 a 4 de novembro de 2022 e há grande expectativa para que o evento retorne com os desfiles. A volta dos desfiles à programação significará mudanças, principalmente um retorno da atmosfera de “festa da moda”, expandindo o público para além dos consumidores de artigo de luxo.