“Meu nome é Gal”, filme que estreou no dia 12 de outubro de 2023, já estava em andamento quando Gal Costa faleceu, aos 77, no ano de 2022. O longa é uma cinebiografia da cantora interpretada por Sophie Charlotte, mas, como quase todas as produções do gênero, não explora em totalidade a trajetória da cantora. Em apenas duas horas de filme, o longa limitou-se a contar o início da carreira quando, aos 20 anos, já em meio à ditadura, Gal se mudou para o Rio de Janeiro e iniciou sua jornada como uma das vozes mais marcantes do Brasil.
Confira o trailer oficial de “Meu nome é Gal”:
O filme explora o desejo de Gal em cantar, e deixa claro aos espectadores que ela não tinha interesse em expor sua vida pessoal. A trama traz personagens marcantes da cena musical brasileira, como Caetano, Gil, Bethânia, Tom Zé, que nutriam relação de afeto com Gal.
No entanto, é na relação entre Gal e Caetano que o filme dá mais ênfase. A amizade com o cantor tropicalista, interpretado pelo ator e publicitário Rodrigo Lelis, fica mais evidenciada nos laços fraternais que um nutria pelo outro. Lelis conta que o trabalho chegou até ele por meio de Dandara Ferreira, uma das diretoras, com quem trabalhou na peça “Por que Hécuba?”. Nas palavras de Rodrigo, a Dandara viu nele um “ator capaz de criar e viver personagens diferentes um do outro”, daí, foi convidado para encarnar Caetano.
Ao construir seu Caetano particular, Rodrigo conta que seus processos o fizeram levar o personagem para sua vida, tentando encontrar novas formas de externar essa relação. No caso do cantor, ao pensar no trabalho de voz e corpo, era amplo o material de estudo disponível, tanto para aprender as formas de falar, sentar, como se manifestar, como responder perguntas, Caetanear. “Esse foi meu processo para construir Caetano, mas sempre buscando um Caetano interessante para mim, não queria simplesmente imitá-lo”. A maior dificuldade, para Rodrigo, foi a responsabilidade em realizar esse papel, fazendo algo que fosse, em suas palavras, “apresentável, de Caetano se sentir representado, do Brasil que o conhece se sentir representado e comovido”.
Para incorporar os elementos da relação de Gal e Caetano, Rodrigo também acionou o imaginário popular já estabelecido sobre os dois, já que Caetano seria um dos maiores compositores de Gal durante sua vida, criando músicas que impulsionariam a cantora ao longo da carreira. Para além desse imaginário e da interpretação do público, o ator também explica que tomou a relação dos dois como uma relação entre irmãos, sabendo de muitas brigas e discussões, entendimentos, e da intensidade da relação que buscou estabelecer também com sua colega de cena, Sophie Charlotte.
Estética do longa
Os elementos estéticos se destacam no figurino, que foi desenvolvido por Gabriella Marra. Em entrevista ao Colab, a figurinista contou que esse foi um dos trabalhos mais desafiadores que já fez. “Normalmente, quando se está construindo uma personagem, a pesquisa fica muito em volta de personalidades parecidas com a que se busca, no caso desse filme, sendo um cinebiografia de Gal Costa, a pesquisa foi basicamente pensada nela”, detalhou. Gabriella Marra também destaca que a cantora foi um grande ícone de moda, ficando muito marcada como uma referência dos anos 1970 e 1980. No filme, no entanto, a narrativa se inicia ainda nos anos 1960, de modo que o comportamento e o visual de Gal são marcados por traços de timidez. Nas palavras da figurinista, é com o tempo que Gal vai descobrindo “uma veia na moda”.
Os anos 1970 já chegaram com uma fase mais glamourizada de Gal. Os espectadores são transportados a um outro tempo, levando em conta a caracterização visual da personagem. Na concepção dos figurinos, a equipe contou com o apoio de Regina Boni, artista plástica mineira que conviveu intensamente com Gal, Bethânia, Gil, Caetano, à época, e chegou a criar figurinos para o grupo, auxiliando no processo de criação das roupas, conforme contou Gabriella Marra.
A construção da identidade visual que marca as passagens de tempo do filme também vai dando a dimensão do amadurecimento e do desabrochar de Gal como cantora e artista. Nesse processo da montagem dos figurinos, foi preciso utilizar muita pesquisa documental, como revistas e fotografias da época. Gabriella Marra destaca que algumas peças de roupas desenvolvidas eram tão complexas que vinham com documentos de detalhamento sobre a produção.
Na cena em que Gal se apresenta e canta “Divino Maravilhoso”, por exemplo, a cantora surge no palco com um figurino marcante, mas Gabriella Marra conta que, nas fontes documentais, não ficava claro para a equipe qual era a cor da roupa original – vermelho ou prata. “Decidimos manter o vermelho pela linguagem visual do filme”. Para ela, a ideia principal dessa cena era manter uma roupa que registrasse a potência de Gal, e o momento importante que ela vivia.