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Leandro Couri: para além das lentes

Leandro Couri parado olhando para a câmera frente a um lago segurando uma câmera fotográfica.
Leandro Couri na praia

A primeira vez que ouvimos falar de Leandro Couri não foi através de sua figura honrada por prêmios. Nem sabíamos que ele era jornalista. Lemos jornais impressos desde pequenos, mas foi nos nossos estudos no curso de jornalismo que começamos a nos atentar a todos os detalhes de um jornal – Olha! ali no canto da foto tem um nomezinho. Assim, em uma aula de fotografia, descobrimos a importância daquele nomezinho (chamado de crédito) no canto das imagens dos jornais. Imaginamos que Leandro não era tão ingênuo quanto nós. Para ele, que também foi estudante de jornalismo, aquele nome no canto, as pessoas nas redações e o registro dos fatos eram de extrema relevância, além de costumeira. Isso porque seu pai, Victor Couri, foi radialista da Rádio Guarani, que fazia parte do grupo Estado de Minas.  

Às quatro da manhã, Leandro acordava animado para seguir seu pai até a redação. Hoje ele ri de suas memórias, mas foi acordando ao alvorecer e avistando todas aquelas fotos que chegavam à redação que foi cultivando o interesse para seguir a mesma profissão do pai.

Victor Couri, pai de Leandro Couri

Por obra do destino ou não, Leandro trabalha atualmente no Estado de Minas. Atuando como fotógrafo do jornal, ele não recusa nenhuma cobertura, mesmo demonstrando maior entusiasmo por temas ambientais, humanísticos e culturais.

Unindo a profissão ao interesse, em 2020 cobriu a rotina dos brigadistas durante os incêndios da Lapinha da Serra (MG). “Me comovi durante a cobertura das queimadas da Serra da Lapinha e tirei uma foto do brigadista abraçado na própria mochila, coberto de cinzas, cansado do árduo trabalho”.

Os incêndios eram motivo para capa de jornal e para além disso, um acontecimento deplorável. Por meio da fotografia, Leandro retirou das cinzas aqueles que largaram seus trabalhos e amores a fim de resgatar a Serra das chamas. A cobertura ganhou a capa do Estado de Minas no dia 13 de outubro de 2020.

Além de destacar sua contribuição visual para grandes coberturas jornalísticas, é importante ressaltar o seu protagonismo na área, ao levar dois prêmios de excelência gráfica para o jornal Estado de Minas. Em 2020, o jornal foi premiado pela 42ª edição do concurso da Society For News Design, com as capas “No limite”. A capa foi sobre o incêndio na Lapinha da Serra, e “Brasil sem rumo”, sobre o avanço das mortes por COVID-19 no Brasil.  Para aqueles que querem produzir jornalismo e fotografia, nosso perfilado indica assistir Chatô o Rei do Brasil.

A obra retrata a vida de Assis Chateaubriand com capítulos que envolvem o governo de Getúlio Vargas, “É uma obra que vai jogar a cultura na cara do leitor”. Couri frisa a importância de ser curioso, virtude agarrada a ele, que, mesmo com 44 anos de pesquisa, lê muito e corre atrás dos acontecimentos da atualidade. Devido aos atuais desafios que o jornalismo enfrenta, o fotógrafo destaca a importância da apuração e da informação para combater as fake news. Ele alerta não só os estudantes, mas também colegas de profissão: “Informação errada mata. No Brasil, virou moda enviar notícias de qualquer fonte para os outros”.

Por trás das lentes

Leandro Couri, além de jornalista, é mestre e professor de capoeira desde 2004. Titi Capuêra, apelido pelo qual é conhecido na arte, relembra que se achava franzino lá na década de 1990. E foi nessa época que sua paixão pela capoeira iniciou-se. Em um dos jogos da Copa de 1995, lembra-se de ficar encantado com a multidão comemorando os gols. Mas o que chamou mesmo a atenção de Leandro foi a comemoração de parte dos torcedores, em uma roda de capoeira. Os movimentos e gingados faziam com que Leandro esquecesse de tudo ao seu redor, inclusive o jogo. Tal encantamento o levou à  Bahia diversas vezes, interessado em conhecer mais a arte e as outras maneiras de se fazer capoeira. A partir da jornada, identificou-se com o estilo angolano.

Leandro Couri na roda de capoeira

Segundo Titi, capoeira é diversidade de pessoas que funciona para cultivar amizades sem espaço para brigas e inimizades. Embora admita que é uma arte que envolve desentendimentos por parte de grupos. Ele comenta que já sofreu com abusos e insultos relacionados à cor de sua pele, branca. Mas ele destaca que isso está longe do racismo vivido pelas pessoas pretas no Brasil. Além disso, reconhece que a sua dor não se enquadra no termo de peso histórico. Mesmo sendo mestre, descendente de libanes, egípcios e africanos, sofreu questionamentos como “uma tentativa de retirar o seu pertencimento”. Por isso, teve que mostrar sua capacidade na arte da capoeira. 

Sendo jornalista e fotógrafo, uma das missões que acredita ter dentro da capoeira é a de documentar a arte. Nunca ganhou nada em troca das documentações. Para ele, registrar a capoeira é doar um pouco em retribuição ao tanto que recebe com a capoeiragem. Leandro vive entre a rotina do jornalismo e a ginga da capoeira, além de ser pai de três crianças. Espanta-se com o cenário de desinformação e violência, mas, durante toda sua trajetória, mantém a ética e o respeito tão trabalhados na arte marcial que ama, tanto fora quanto dentro das redações.

Conheça mais do trabalho jornalístico de Leandro Couri

Conteúdo produzido por Nara Ferreira e Victor Parma na disciplina Apuração, Redação e Entrevista, sob a supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard.

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