Sabe aquela famosa música “chiclete”, que cola na sua cabeça e você se depara cantando e lembrando dela em diversos momentos? Esse é o objetivo primordial dos autores de jingles políticos: fazer o chiclete colar! Isso porque a propaganda cantada representa uma das melhores maneiras de uma marca, personalidade ou ideia ser lembrada.O termo “Jingle” vem do inglês e consiste em um tipo de propaganda ou música de peça publicitária, uma mensagem musical simples e de curta duração, que tem o objetivo de ser lembrada com facilidade, sendo divulgada em rádio, televisão, carros de som e, hoje em dia, até em aplicativos de música. O primeiro jingle foi desenvolvido para o cereal matinal Wheaties, nos Estados Unidos, em 1926.
Já no Brasil, com o Decreto Lei nº 21.111, de 1º março 1932, o presidente Getúlio Vargas, autorizou e regulamentou a publicidade e a propaganda pelo Rádio. Todavia, na época, a manifestação publicitária radiofônica não ia além do anúncio dos nomes dos patrocinadores. Por diversas vezes, os anúncios eram apenas lidos, sem qualquer tratamento especial. Logo depois, tudo mudou quando, no mesmo ano, a Padaria Bragança, do Rio de Janeiro, lançou a primeira peça publicitária cantada do país.
Jingles memoráveis no Brasil
Contudo, mesmo antes da rádio, os jingles eram utilizados por vendedores ambulantes. É o que diz o professor Caio César Gianinni, do curso de Publicidade e Propaganda da PUC Minas. De acordo com ele, o jingle é uma mensagem publicitária inteira, e é bastante útil, porque tem essa capacidade de ajudar o consumidor a memorizar uma mensagem. Então, se você quer associar uma ideia a uma marca, um jingle é muito interessante.
“Como jingles memoráveis, podemos citar aquelas mensagens publicitárias do Guaraná Antárctica, nos anos 1990, quando tínhamos a associação do consumo do guaraná antártica com pizza, com pipoca e por aí vai…”, lembra o professor Caio.
Caio menciona também os jingles que foram marcantes em determinadas regiões. De acordo com ele, em BH, dentre os jingles que vale lembrar estão o da concessionária Carbel, da Volkswagen, e da Cetibras, concessionária da Fiat, “muito marcantes na história da cidade”.
Da mesma forma, outra marca que não ficou fora de ser lembrada pelo comercial musicado foi o McDonald’s. Portanto, se hoje as pessoas sabem dizer facilmente que ingredientes vão em um Bic Mac, é graças a essa aplicação musicada.
Jingles na Política
No Brasil, os períodos eleitorais representam um período marcado pela profusão dos jingles . Afinal, qual a melhor maneira de fazer os eleitores se lembrarem de você, não é mesmo?
O professor de publicidade Caio César ressalta a importância dos jingles no período eleitoral. “Eles são bastante úteis e relevantes no processo de fixação de mensagens, por isso, período eleitoral, é muito forte a utilização de jingle. Contudo, mesmo tendo uma forte digitalização, os candidatos ainda podem fazem uso de jingle em seus eventos de campanha. Isso é muito importante pois ajuda a associar as pessoas ao seu número e às ideias defendidas. É um evento para familiarizar as pessoas, cantar junto e tudo mais. Então, quando ele consegue reunir essas informações a ritmos interessantes para seus eleitores, tem tudo para dar certo”.
Nesse sentido, desde 1929, temos jingles que marcaram a história eleitoral do Brasil. Confira os principais deles:
Seu Julinho Vem
Ó Seu Toninho
Da terra do leite grosso
Bota cerca no caminho
Que o paulista é um colosso
A marchinha, composta por Francisco José Freire Júnior e interpretada por Francisco Alves, entoava a campanha de Júlio Prestes.
A candidatura de Prestes marcou, portanto, as eleições de 1930, na qual tivemos a décima-primeira eleição presidencial direta e, também, a última eleição da República Velha. Além disso, essa época é marcada pelo fim da “política do café com leite”.
Retrato do Velho
Bota o retrato do velho outra vez
Bota no mesmo lugar
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar
Conhecido popularmente como “pai dos pobres”, não poderia existir um jingle que melhor representasse Getúlio Vargas. Logo após 15 anos no poder, Vargas veio em 1950 como candidato pela coligação entre o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Social Progressista (PSP).
Sua marchinha de campanha, intitulada “Retrato do Velho”, foi composta por Haroldo Lobo e interpretada por Francisco Alves. Além disso, a letra fazia referência ao seu primeiro mandato, em 1930, quando suas fotos deveriam ficar expostas nas paredes de prédios públicos.
Logo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial este ano (2022), uma menção indireta a esse jingle foi referenciada pelo jornal Extra na manchete da edição publicada no dia 31 de outubro. Assim, o título “Bota o retrato do Lula outra vez” e imagem do porta-retrato usado nas paredes das repartições públicas, o jingle de Getúlio voltou a ser lembrado.
Gigante pela Própria Natureza
Juscelino Kubitschek é o homem
Vem de Minas das bateias do sertão
Juscelino, Juscelino é o homem
Que além de patriota é nosso irmão
Juscelino Kubitschek foi um candidato que teve grande aposta na campanha musical. Em 1955, era governador de Minas e, em sua campanha, focou no patriotismo.
Do mesmo modo, o governo de JK também foi marcado pela construção de Brasília, investimento em rodovias e seu plano de metas que visava desenvolveer o Brasil “cinquenta anos em cinco”.
Varre Vassourinha
Varre, varre, vassourinha
Varre, varre a bandalheira
Que o povo já está cansado
De sofrer dessa maneira
Jânio Quadros é a esperança
desse povo abandonado
Jânio Quadros é certeza
de um Brasil moralizado
Composta por Maugeri Neto, o jingle Varre, varre vassourinha, marcou a candidatura de Jânio Quadros em 1960.
Apesar de ter vencido as eleições, Quadros presidiu durante sete meses, apenas. Logo depois, em agosto de 1961, renunciou ao cargo, dando lugar a Ranieri Mazzili.
Caixinha do Adhemar
Quem não conhece, quem não ouviu falar
Na famosa caixinha do Adhemar
Que deu livro, deu remédio, deu estrada
Caixinha abençoada
Já se comenta de norte a sul
Com Adhemar tá tudo azul
Outro jingle marcante foi o de Adhemar de Barros, que lançou a sua candidatura em 1960. Seu jingle de campanha, composto por Herivelto Martins e Benedito Lacerda, e interpretado por Nelson Gonçalves, criticava as acusações de desvio de verbas durante o seu tempo como governador de São Paulo.
Ei, ei, Eymael
Ei, ei, Eymael
Um democrata cristão
Pra presidente é 27
O nome é Eymael
Pela família e pela nação
Só de ler a primeira linha, o nosso cérebro já completa o restante da marchinha. José Maria Eymael, apesar de nunca eleito, conseguiu se consagrar e fazer história com o seu jingle. A música composta por José Raimundo de Castro, foi utilizada posteriormente nas campanhas de Eymael nas eleições de 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018.
Bote fé no velhinho
Bote fé no velhinho, ele sabe o que faz
Vai limpar o Brasil do Oiapoque ao Chui
E acabar com a molecagem que tem por aí
Ulysses Guimarães foi militante das “Diretas Já” e presidente da Assembleia Nacional Constituinte. Chegou a fazer parte da chapa de Tancredo Neves e Sarney e entrou como candidato em 1989. Com isso, prometeu ser capaz de “acabar com a molecagem” no Brasil.
Colorir para mudar
O Brasil precisa de quem vai à luta
De inteligência, e não da força bruta
Fernando Collor de Mello foi eleito à presidência em 1989, sendo conhecido como “Caçador de marajás”. Em sua campanha, focava no discurso de que ele seria a “salvação”, pois iria acabar com a corrupção do país.
Sem medo de ser feliz (Lula lá)
Lula lá, brilha uma estrela
Lula lá, cresce a esperança
Na alegria de se abraçar
Lula lá, com sinceridade
Lula lá, com toda a certeza pra você
As eleições de 1989 foram as primeiras de Luiz Inácio Lula da Silva após o fim da ditadura. Portanto, seu jingle, que foi composto por Hilton Acioli e Paulo de Tarso, nos traz uma sensação de esperança. À época, ele foi entoado por diversos artistas como Gal Costa e Djavan. Dessa forma, a música fez tanto sucesso que é utilizada nos dias atuais, 33 anos depois, na campanha eleitoral de 2022.
Lá, Lá, Lá, Lá, Lá Brizola
Lá, lá, lá, lá, lá Brizola
O voto pro Brizola
Só pode nos trazer
Um tempo bem melhor pra se viver
Leonel Brizola se candidatou à presidência em 1989. Sua música era bem marcante pois lembrava uma canção de ninar.
Levanta a Mão (1994)
Tá na sua mão,
na minha mão,
na mão da gente
Fazer de Fernando Henrique
nosso presidente
Foi com estes versos que Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente do Brasil em 1994. A canção, composta por Nizan Guanaes, Sérgio Campanelli e César Brunetti, lança então a candidatura do responsável pela criação do Plano Real.
Levanta a Mão (1998)
Levanta a mão e vamos lá
Que o Brasil tá caminhando, ele não pode parar
Quero avançar, seguir em frente
Reeleger Fernando Henrique presidente
Posteriormente, em sua campanha de reeleição, o jingle de Fernando Henrique Cardoso usou referências do jingle de 1994 e convida as pessoas para “continuar avançando o Brasil”.
Deixa o Homem Trabalhar
A voz de Deus é a voz do povo/ Olha Lula aí de novo
Lula é um grande presidente/ E vai continuar com a gente
Não troco o certo pelo duvidoso/ Eu quero o Lula de novo
Lula é um grande presidente/ E vai continuar com a gente
Logo depois do seu primeiro mandato, Lula lança sua recandidatura à presidência da república em 2006. Nesse sentido, no jingle, o compositor “Lázaro do Piauí” apela dizendo aos eleitores para “não trocarem o certo, pelo duvidoso”.
Funk do Aécio
Oi, vote certo, vote correto
Cola com ‘nois’ que vota no Aécio (2x)
É pra mudar, é pra mudar o Brasil (2x)
Equipe formada, tá selecionada
É a juventude do Muda Brasil
Aécio Neves foi candidato à presidência em 2014. O jingle oficial da campanha, na verdade, era outro. Contudo, o funk criado por três jovens do interior de Minas Gerais bombou tanto que passou a ser a música principal do candidato.
Coração Valente
Dilma, coração valente
Força brasileira, garra desta gente
Dilma, coração valente
Nada nos segura pra seguir em frente
Este era o jingle da candidata e então presidente, Dilma Rousseff, nas eleições de 2014. Composto por João Santana, ele fala traz um apelo ao povo, principalmente ao afirmar que Dilma nunca tirou os seus olhos do seu sofrimento.
Tá na Hora do Jair
‘Tá na hora do Jair
‘Tá na hora do Jair
É o quê? Já ir embora
Arruma a suas malas
Dá no pé e vá-se embora (tchau)
Por fim, tivemos nas eleições de 2018, com a campanha ganhando mais espaço nas plataformas de mídias sociais, uma lógica dos jingles um pouco alterada. As músicas foram criadas não apenas pelas campanhas oficiais, mas também por apoiadores.
Posteriormente, este movimento se perpetuou e ficou ainda mais forte em 2022 pois, além de músicas em apoio aos candidatos, também viralizaram jingles falando da oposição. É o caso da música “Tá na hora do Jair”, reproduzido por apoiadores do candidato Lula durante o período eleitoral.