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Isabela Scalabrini: “Ser jornalista é a melhor coisa do mundo”

Filha de pais mineiros, Isabela Scalabrini nasceu no Rio de Janeiro, em 1957. Passou grande parte da vida na capital fluminense até se mudar para Minas Gerais em 1997. Sempre teve vocação para escrever, sendo premiada em concursos de redação no ensino médio. Ela conta que teve influência do pai, que também era da área e trabalhava como locutor de rádio, tendo ainda passado pela TV.

Quando ainda estava cursando jornalismo na Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), surgiu a oportunidade de estagiar na Rede Globo, em 1979. Eram mais de mil candidatos no processo seletivo para ingressar na maior emissora do país. Dentre os candidatos, foram escolhidas apenas dez mulheres, e Isabela estava entre elas.

Foi nessa fase que a jornalista aprendeu na prática como funciona a apuração em um grande jornal. “Era uma salinha mínima, com três mulheres que estavam aprendendo a perguntar, anotar, e a gente ligava para a Central de Delegacias ‘- Tem alguma chamada importante ou algum acontecimento?’ Também ligávamos para o Corpo de Bombeiros de hora em hora”, conta Isabela, relembrando a rotina das rondas policiais realizadas no início da carreira.

A paixão pelo futebol

A jornalista conta que sempre gostou de esporte e, quando criança, praticava vôlei. Por conta disso, a área de esporte sempre foi uma opção. Em seu último ano na faculdade, conseguiu estágio na área de jornalismo esportivo e, logo após, foi contratada cobrindo principalmente o esporte amador. Além disso, o tio Neyvaldo, ponta-direita, conhecido como eterno reserva de Garrincha, jogava no Botafogo. Então a família sempre estava por dentro das notícias esportivas. Ainda assim, em um ambiente predominantemente masculino, sofria com o sexismo e sempre era questionada: “Mas você entende de futebol?”

Isabela coleciona momentos no esporte, entre eles a cobertura da Copa do Mundo, o maior evento do futebol mundial. Na edição do México, em 1986, enquanto cobria a seleção Argentina, a jornalista foi vítima de um episódio machista por parte de colegas. “Repórter tem que perguntar o óbvio… Eu cheguei para ver o Maradona. – ‘O Maradona já chegou?’ Fiz aquela inocente pergunta”. A resposta de um dos jornalistas, que era um homem, foi ríspida: “Ele está só esperando você chegar”. Inabalada, Isabela continuou a procura por Maradona, craque argentino, para cumprir o papel de repórter, e obteve êxito: o camisa dez concedeu uma entrevista ainda dentro dos vestiários. A repórter se tornou a primeira mulher a entrevistar Maradona, “ele me ajudou a superar um caso de machismo”, reconhece Isabela. Revendo a sua atuação, ela admite que apenas recentemente teve a total dimensão do quanto alguns setores do jornalismo eram hostis às mulheres.

Isabela Scalabrini em entrevista exclusiva com Maradona / Reprodução Gshow

Depois de atuar em diversos eventos esportivos, como Copas do Mundo e Olimpíadas, Isabela quis buscar algo novo no jornalismo. Foi então que ela decidiu deixar o noticiário esportivo. Ainda assim, a imagem de Isabela permaneceu ligada ao esporte. “Como eu fiquei marcada como repórter de esportes, a Globo sempre me chamou para cobrir jogos, competições.” E ela acabou retornando em algumas ocasiões à cobertura esportiva, como durante a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, com jogos marcantes no Mineirão, em Belo Horizonte.

Profissionalismo

“O jornalismo é como se fizesse uma viagem, conhecer um lugar novo, uma pessoa nova, uma história nova” – Isabela Scalabrini, jornalista

Após tantos anos de carreira, no total 44 em vínculo apenas com a TV Globo, Isabela acaba de deixar a emissora e analisa o que vê de diferente entre o jornalismo atual e o de quando começou. Reconhecendo as vantagens das novas tecnologias e da Internet, lamenta a agilidade extrema. No início, cada acontecimento narrado como repórter contava com o dia todo para apurar, o que ofertava mais segurança ao que estava sendo transmitido. Hoje a rapidez é desafiadora. Ela menciona que, antes mesmo de uma equipe de reportagem chegar ao local do fato, vários vídeos já circulam nas redes, muitas vezes com histórias distorcidas, o que dificulta o trabalho dos profissionais. “Sempre houve notícias falsas, mas hoje em dia a gente deve ter a preocupação de desconfiar de todo mundo. […] O jornalismo continua sendo isso, tem que apurar, tem que falar a verdade, tem que ser rápido, tem que checar fake news.”

Quando perguntada sobre as recentes críticas e ataques que jornalistas vêm sofrendo, Isabela diz que já houve casos em que os ataques, além de serem direcionados à empresa, também eram direcionados à profissional.

“Por isso o jornalismo tem que ser muito sério, muito profissional, e as pessoas precisam entender que jornalismo é aquele que está sendo feito, precisam acreditar no jornalismo profissional, e ele existe, ele está aí para ser respeitado. A gente gostaria de ser respeitado”  – Isabela Scalabrini, jornalista

Pandemia

O trabalho jornalístico durante a pandemia foi triste pelo teor das reportagens feitas, mas profissionalmente Isabela considera que houve uma grata surpresa. “Eu gravei 300 entrevistas online, fiz reportagens do Jornal Nacional (JN) ao Bom Dia Minas, graças à tecnologia”. Devido ao trabalho remoto, a jornalista conta que recebia as pautas e gravava as reportagens pelo tablet, rotina que perdurou por um ano e meio.
O trabalho envolvia, além de novos aprendizados, explicar às fontes como gravar um vídeo para mostrar detalhes de uma informação. Isabela cita como exemplo uma reportagem especial feita para o JN, na qual entrevistou um garoto de 10 anos que fez um transplante de coração. “A enfermeira gravou de longe um vídeo dele para mim lá do CTI, o menino lá na cama acenou para a câmera, olha que emoção”. Ela considera o impacto positivo da reportagem e a repercussão do caso como importantes, visto que o menino chegou a ganhar uma casa. “Então foi um momento triste, mas eu dei algumas notícias boas na época”, relembra Isabela.

Dia a dia da ex-repórter da Globo durante a pandemia. Foto/Arquivo

Tempo livre

Em clima descontraído, a jornalista recém-aposentada conta que por mais que tenha passado grande parte da vida em Minas Gerais, não torce pelo Cruzeiro nem pelo Atlético. Foi o Botafogo que a conquistou, por ter um tio que foi o “eterno reserva do Garrincha”. Tentando fazer a prática da boa vizinhança com os outros times cariocas, ela diz que foi amiga do Zico, que jogava no Flamengo, e também sempre teve carinho por Roberto Dinamite, que jogou no Vasco. Então, na verdade, Isabela considera ter um olhar diferente tanto para o futebol quanto para o vôlei, torcendo pelos amigos mais do que pelos times.

Em meio aos plantões e à rotina agitada na redação, gostava de ocupar o tempo livre lendo jornais impressos, aproveitando o sol, fazendo caminhadas e aproveitando a companhia do marido e dos filhos: “Eu sempre tento unir todo mundo. E muito do que eu fazia, ainda faço, é ir pro Rio ver minha mãe. Às vezes eu saía do MGTV e ia pegar o avião para passar sexta, sábado e domingo com ela.”

Isabela foi apresentadora da Globo Minas e um dos principais rostos do jornal durante 25 anos. No começo de 2023 ela saiu da emissora, com o objetivo de reduzir a rotina de trabalho e aproveitar a vida. “Eu estava precisando dar uma parada, de entender e conhecer um pouquinho quem é a Isabela fora da TV Globo, fora do jornalismo”. Ela conta que foi uma escolha difícil, mas afirma que é o seu momento. Em meio às propostas de trabalho que tem recebido, ainda não topou nada fixo e quer dar novo viés na carreira, investindo mais nas redes sociais.

“Eu tenho três filhos, os três se casaram no ano passado. Eu agora vou ser vovó, acabei de descobrir. Então o meu momento é para descansar, sabe? É pra curtir a vida” – Isabela Scalabrini, jornalista

Isabela Scalabrini e nossa equipe após uma conversa sobre carreira e vida pessoal. Foto/LabVídeo PUC Minas.
Conteúdo produzido por Ana Luiza Diniz, Ana Maria Rocha, Bruno Paz, Clara Fonseca, Karen Cristina e Lavinia Aguiar na disciplina Apuração, Redação e Entrevista, sob a supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard e do estagiário docente Marcus Túlio. 
Conteúdo produzido em 2023, mas atualizado em julho de 2024.

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