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IA combate vazamento de água no sistema de saneamento básico

Equipamento 4Fluid / Reprodução Copasa

No final de 2023, a Copasa, empresa responsável pelos serviços de saneamento básico em grande parte do estado de Minas Gerais, passou a investir em inteligência artificial para aprimorar o monitoramento de redes e reduzir vazamentos, por meio de uma parceria com a startup 4Fluid, especializada em soluções tecnológicas para o setor de saneamento.

Em Minas Gerais, perdas de água chegam a cerca de 39% da distribuição total, segundo dados do setor de saneamento. O desperdício aumenta os custos operacionais das empresas e impacta diretamente o bolso do consumidor, além de reduzir a disponibilidade de um recurso essencial, especialmente em períodos de estiagem.

Segundo informações da Copasa, o uso do sistema 4Fluid resultou em uma redução de 14% nas perdas diárias de água em 11 cidades mineiras, incluindo Bambuí, Curvelo, Januária e Araxá, onde os resultados foram mais expressivos, com cerca de 50% de aproveitamento. O desempenho positivo incentivou a expansão do projeto para outros municípios.

De acordo com a engenheira Mariana Neves Lima, responsável pela gerência da Região Metropolitana Leste da Copasa, são realizadas mais de 300 leituras diárias, que alimentam o banco de dados da IA. “Quanto maior a coleta, maior a precisão do sistema”, explica. O equipamento utilizado — um coletor de áudio acoplado a hastes — é posicionado sobre os hidrômetros para captar ruídos da rede. Se a inteligência artificial identifica uma pressão anormal, um alerta de possível vazamento é emitido e as equipes conseguem atuar com mais agilidade e precisão.

A inteligência artificial da 4Fluid funciona em um modelo de aprendizado contínuo. O sistema analisa padrões de ruído na rede e consegue diferenciar rapidamente entre interferências externas e sinais reais de perda, aumentando a assertividade das equipes de campo.

Haste da 4Fluid em ação com profissional da Copasa. Reprodução / Site Copasa

Apesar dos avanços, a tecnologia ainda passa por ajustes. Por ser uma solução recente, a IA precisa de constante treinamento para reduzir a margem de erro nas detecções. Em grandes centros urbanos, o desafio é ainda maior: interferências sonoras externas podem ser interpretadas como vazamento, dificultando o trabalho das equipes em campo.

O impacto social do projeto também foi enfatizado por docentes do curso de Biomedicina da PUC Minas. Para Juliana Resende, coordenadora do curso, a iniciativa não se limita ao uso de tecnologia, mas garante que um recurso essencial chegue de forma segura à população, reforçando o compromisso social do saneamento.

A professora de Microbiologia da PUC Minas, Lindi Lopes, destaca que a perda de água também é uma questão de saúde pública, já que a Biomedicina atua diretamente na prevenção de riscos e na promoção da qualidade de vida. Já a professora de Biotecnologia Clínica, Deila Sabato, chama atenção para a dimensão econômica: com a redução de vazamentos, o consumidor deixa de pagar por uma água que nunca utilizou.

Com os resultados iniciais positivos, a Copasa e a 4Fluid planejam expandir a tecnologia para novas regiões em 2026, com meta de reduzir perdas em maior escala nas cidades atendidas. Além disso, há previsão de integrar o sistema a outras ferramentas digitais de monitoramento, tornando a gestão do saneamento mais eficiente e sustentável. A expectativa é reduzir ainda mais os vazamentos e fortalecer o uso responsável dos recursos hídricos — reforçando como a integração entre inteligência artificial e saneamento básico pode gerar benefícios concretos à sociedade.

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Reportagem produzida pelas monitoras do Jornalismo campus Lourdes Duda Pimentel e Ester Filgueiras, com apoio do curso de Biomedicina.
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