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Halloween: Por que somos fascinados pelos filmes de terror?

Roer as unhas. Tapar os olhos. Sentir medo. Assustar-se. Temer a vida. Ter frio na barriga. Ficar sem dormir. Essas são algumas das coisas que os amantes de filmes de terror sentem e adoram. Para eles, é um programinha ideal em uma sexta-feira à noite, seja ela sexta 13 ou não. Em outubro, mês que se comemora o Halloween, ou, em bom português, o dia das bruxas, o Colab apresenta este conteúdo especial para que você entenda a diferença entre terror e suspense e por que somos fascinados pelos filmes de terror, o que justifica os lucros altos nas bilheterias de cinema.

Você deve se perguntar por que algumas pessoas gostam de ter essa sensação de medo, afinal, os filmes de terror fazem muito sucesso, com recordes de bilheteria. Em análise feita pelo site UOL, o campeão de rentabilidade na história do gênero é IT: A coisa, lançado em 2017. O filme somou U$701 milhões nas bilheteria de todo o mundo, além de 86% de aprovação no Rotten Tomatoes, website americano agregador de críticas de cinema e televisão. Confira o ranking de bilheteria:

A origem do gênero

O gênero de terror nasceu logo nos primórdios do próprio cinema. George Méliès, pioneiro do cinema como conhecemos, idealizou e realizou seu primeiro filme de terror no século XIX, um curta-metragem chamado Le Manoir du diable (O Castelo do Demônio). Apesar de passar um tempo sem filmes relevantes, o terror voltou a se destacar no expressionismo alemão com o filme Gabinete do Doutor Caligari, um filme mudo de 1920.

Ivo Costa, cineasta e um dos colaboradores do blog Boca do Inferno, ressalta que a literatura foi um dos pontos importantes para a popularização do terror. “Surge a literatura do horror, até mesmo com o horror gótico. O Drácula de Bram Stoker é de 1897 […]. Então ali muita coisa foi adaptada, como o Nosferatu que é uma adaptação do Drácula de Bram Stoker.”

Segundo Costa, o gênero de terror começa junto ao cinema, consolida-se em 1920 e logo depois, na década de 1930, a Universal Studios lança os “monstros clássicos da Universal”, como Drácula (1931) e Frankenstein (1931).

Sentir medo faz aumentar nossa adrenalina, que provoca sensações indescritíveis. Para observar como o cérebro reage aos filmes, a Universidade de Turku, na Finlândia, realizou uma pesquisa em que foi comprovado aumento na percepção auditiva e visual em situações de expectativa, quando se tem a impressão que algo ruim acontecerá. Já quando ocorre o susto inesperado, quem sofre com o aumento são as áreas que cuidam da tomada de decisão e processamento de emoções .

Esses sentimentos ajudam a popularizar os filmes. A pesquisa também relatou que 72% dos participantes do estudo assistem ao menos um filme desse gênero a cada seis meses. Mas é preciso cautela. “Os filmes foram criados para ativar em nós, áreas do cérebro, do nosso corpo, que somente seriam acionadas em situação de perigo real. Assistir e ativar essas áreas para estimular essas emoções pode ser interessante e é muito importante que elas aconteçam, desde que haja cautela em relação a essa ativação. O aumento desses estímulos são normalmente ativados com conteúdos que acessamos na internet… imagina quando essas ativações são feitas propositalmente, através dos filmes?”, diz a psicóloga especialista em leitura corporal e hipnose clínica, Carol Campos.

Ela ainda ressalta que o espectador pode se sentir mais presente no mundo. “Em um mundo em que as pessoas estão cada vez mais desconectadas da realidade é importante que elas acionem esse estado de presença. Algumas delas recorrem aos filmes de terror para que sintam novamente o coração bater, a respiração acontecer e aquele estado de estar vivo, a partir daquilo que o filme provoca nelas, para que elas consigam perceber a existência dela no outro”, afirma Carol.

Terror ou suspense

Pode parecer a mesma coisa, mas, definitivamente, não é. Existem características para cada um desses gêneros. No cinema de terror, temos como características os sentimentos de repulsa e medo. “Essa repulsa vai ser causada por um monstro, mas não é necessariamente ficcional, esse monstro pode ser a ameaça que está naquele cenário”, explica Ivo Costa. Ele ainda ressalta que o medo no cinema de horror nem sempre é para o espectador, mas sim para o personagem inserido naquele contexto. “É sobre como você vai inserir um elemento e como ele vai funcionar ali dentro.”

Cena do filme “O Exorcista”/ Fonte: Reprodução/Warner Bross. Pictures

Costa conta que o gênero de terror sofre preconceito por ser associado a filmes ruins, os chamados “filmes trash”. Ele cita como exemplos O Bebê de Rosemary, O Exorcista, O Iluminado e Corra. “Isso parte de pessoas de dentro da crítica cinematográfica, dentro do cinema. […] Eles acham que esse gênero é menor, e não é. O gênero de horror é tão excelente quanto qualquer gênero.”

Os fãs se importam?

Algumas pessoas podem torcer o nariz para os chamados filmes trash. Mas há pessoas que gostam e defendem. Jader Monteiro, fã do gênero, fundou com amigos um bar temático em Contagem justamente para homenagear os filmes trash dos anos 1990, o Trash Tattoo Bar. “A ideia começou com uma brincadeira nossa, porque todo mundo que queria fazer tatuagem com o Thiago, eles levavam bebida. […] A ideia era só um estúdio de tatuagem que vendia cerveja, mas aí surgiu outra ideia, e a gente pensou no que a gente gostava. E a temática do filme trash vem dessa paixão que vem com o Zé do Caixão.”

Entrada do Trash Tattoo Bar/ Foto: Bianka Reinhardt

Jader desde criança gostava de filmes de terror, ele assistia e embora ficasse com medo, ficava fascinado procurando assistir ainda mais o gênero. “Esse gênero influenciou, tanto nos meus gostos musicais, quanto em curiosidade, de querer saber mais sobre. Até em amizade, a gente fez muita amizade por causa de filme.”

Posters de filmes trash de terror na parede do Trash Tattoo Bar/ Foto: Bianka Reinhardt

O cine clube Quarta-Feira 13 dos alunos de cinema

O estudante de cinema da PUC Minas Lucas Tavares coordena o grupo de estudos Quarta-Feira 13, que funciona mais como um cine clube. A ideia surgiu quando ele quis fazer um cine clube de cinema marxista, todavia, não deu muito certo. “Era quando eu estava tendo aula com a Elisa, professora de documentário. […] Ela me fez essa proposta de fazer um cine clube.” Com a ideia indo ao encontro do tema de TCC de Tavares sobre horror corporal, e também do desejo de manter o costume de assistir filmes de terror pelo Discord (uma plataforma de transmissão de voz, onde pode criar uma comunidade), ele criou o Quarta-Feira 13.

Quando perguntamos o que faz um filme de terror ser bom, Lucas diz que não há como definir. “Para ser sincero, eu não gosto muito disso, sobre um filme ser bom ou ser ruim. Acho que entra em um caráter moralista sobre cinema, e às vezes meio elitista. […] Como se você esperasse dele certas atuações, um aspecto técnico. E eu acho que isso não é regra, principalmente para filmes de terror, onde tem muita produção independente, muita produção com baixo orçamento, muita produção trash. Que são clássicos, pérolas meio perdidas, que não cedem a esses aspectos estéticos do que formaria um ‘cinema bom’.”

Audiência das séries de terror

Segundo um levantamento da Netflix, a série de terror Dahmer: Um Canibal Americano, lançada em 21 de setembro,  ocupa a nona posição de séries mais populares da plataforma. Com duas semanas de exibição, a produção acumulou 496,1 milhões de horas assistidas e a expectativa é que alcance orecorde do número de visualizações, afinal, não sai do TOP 10 em séries no mundo inteiro. 

A minissérie de dez episódios é inspirada em Jeffrey Dahmer, um famoso serial killer dos Estados Unidos que assassinou 17 pessoas entre 1978 e 1991. O lançamento causou repercussão na mídia. “Além do gênero ‘true crime’ estar em alta, a brutalidade dos assassinatos cometidos por Jeffrey Dahmer podem ter contribuído para atrair o público a assistir a série. Acredito que grande parte assistiu pela curiosidade e pela avaliação positiva da crítica”, especula o estudante de jornalismo Leonardo Morais, que já terminou de ver o seriado. 

Críticas e polêmicas sobre a série estão em alta, uma vez que alguns familiares das vítimas não concordaram com a exposição de imagem. Rita Isbell, irmã do jovem Errol Lindsey, de 19 anos, disse que nunca foi contactada pela Netflix para saber se concordaria que sua imagem fosse exposta. “Quando vi parte da série, isso me incomodou, especialmente quando me vi, quando vi meu nome na tela e essa senhora dizendo palavra por palavra exatamente o que eu disse”, afirmou Rita ao site Insider.

Além de polêmicas sobre autorização do uso de imagem, outro tema foi a insensibilidade ao crime de racismo e homofobia. “Como negros, devemos boicotar (a série). O que ele fez com nossos filhos negros é doentio”, publicou no Twitter o rapper Boosie BadAzz.

O gênero true crime, traduzido do inglês como crime verdadeiro, ou crime de verdade, está cada vez mais presente no mundo do cinema e da literatura. As características dessa modalidade são trazer casos verdadeiros e expor os detalhes dos crimes, mostrando o passo a passo de toda a investigação – o que pode agradar ou incomodar o público. “Acho interessante, porque assisto com a expectativa de que aquilo foi real, que realmente aconteceu. Por mais bizarro que seja, isso mostra que o ser humano é capaz de ser mais cruel do que imaginamos”, defende Leonardo Morais.

Halloween

Conhecido também pelos brasileiros como dia das bruxas, o Halloween é celebrado no dia 31 de outubro, principalmente nos Estados Unidos. O nome deriva de All Hallows ‘Eve. Hallow é um termo antigo para “santo”, e eve é o mesmo que “véspera”, ou seja, véspera de todos os santos – referência a data celebrada pela Igreja Católica no dia 1º de novembro. Apesar de ser um evento marcante na cultura americana, as raízes do Halloween são do Reino Unido.

Tudo começou no século 18, com o festival celta de Samhain – que significa fim do verão. De acordo com os estudiosos, o Samhain durava três dias, com início em 31 de outubro para homenagear o rei dos mortos. Depois de um tempo, a festa foi cristianizada e unida com a celebração de todos os santos, mudando os costumes tradicionais do Samhain.

Com o tempo, a festa foi se adaptando e migrou também para outros países, como no Brasil. Nas tradições norte-americanas e inglesas, acredita-se que, na noite do dia 31 de outubro, as almas saem dos túmulos e seguem pelas ruas amedrontando todos aqueles que estão por perto. Por isso, os jovens se fantasiam de mortos-vivos para baterem de porta em porta e perguntar: doces ou travessuras?

Nas terras brasileiras, a festa não é tão celebrada, mas aqueles que gostam de sentir medo promovem a noite do terror, em homenagem ao Dia das Bruxas.

Reportagem produzida por Bianka Reinhardt e Maria Luíza Rabello
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