Localizada entre as ruas São Paulo e Curitiba, duas das principais vias do centro de Belo Horizonte, a Galeria Ouvidor é considerada um ponto comercial muito importante e tradicional da capital mineira. A história deste espaço começa na conturbada década de 1960, momento em que Belo Horizonte, assim como o Brasil, vivia em uma crise econômica. Neste contexto, em 10 de março de 1964, para revitalizar o centro comercial de BH, foi criada a Galeria Ouvidor, que recebeu este nome inspirada na famosa rua do Ouvidor no Rio de Janeiro. Era uma tentativa dos comerciantes mineiros de posicionarem a capital como uma grande metrópole como Rio de Janeiro e São Paulo.
Em 64, idealizada como um projeto do então Presidente Juscelino Kubitschek, ela surgiu para atender a elite de belo-horizontina. Sendo assim, a Galeria trouxe novidades que se tornaram grandes atrativos para seus visitantes”, conta o atual administrador da Galeria Ouvidor, Valter Faustino.
Entre essas novidades, está o Salão Unisex Nero Cabeleireiro, que se tornou febre entre homens e mulheres da época, que faziam filas para serem atendidos no local. O salão está em funcionamento até hoje, no segundo piso.
Outra grande revolução para o período foi a instalação da primeira escada rolante de Belo Horizonte, que além de ser facilitador para a locomoção entre os andares, era considerada um divertimento para quem visitava o espaço, por ser uma novidade da época.
Para combinar com a ideia de inovação comercial, a arquitetura da Galeria Ouvidor foi totalmente pensada a partir do modernismo, com a construção dos corredores, lojas e andares nos padrões da estética moderna. A Galeria se tornou um grande sucesso, sendo frequentada por celebridades da década, como músicos e atletas de futebol.
Importância comercial
Depois de virar febre entre as pessoas mais ricas de Belo Horizonte, a Galeria foi se adaptando e se tornando um espaço para todos os públicos. Na época em que só atendia a elite belo-horizontina, a Galeria dispunha de lojas de perfumes e roupas importadas. Com o passar dos anos, os andares foram dando espaço para couros, discos, jeans, bijuterias e se moldando de acordo com a demanda do mercado, como destaca o administrador da casa, Valter Faustino: “Nós passamos por vários segmentos. Atualmente, o espaço comercial tem predominância nas lojas de bijuterias, relojoarias, salão de beleza, sex shops, artesanatos, embalagens e lembranças”.
Para Faustino, essa adaptabilidade às demandas do mercado é o que faz da Galeria ainda um forte espaço comercial de BH. “Eu acredito que a vontade de atender o mercado faz com que a Galeria sobreviva e nós sabemos que temos um potencial comercial muito grande e queremos explorar ainda mais um outro ponto nosso: o turismo, para que a gente alcance mais 60 anos”.
Segundo dados cedidos pela Galeria Ouvidor, circulam, diariamente, cerca de 14 mil pessoas pelas mais de 220 lojas do espaço. Já em datas comerciais, como Natal e Dia das Mães, o espaço recebe todo o dobro de clientes, chegando a quase 30 mil frequentadores por dia. Esses números revelam que a adaptabilidade do local ao mercado é um dos diferenciais que fazem da Galeria, mesmo após 60 anos, um importante ponto do comércio belo-horizontino, é o que explica o Gerente Institucional da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Joel Souza.
A cidade de Belo Horizonte sempre teve como referência econômica o setor de comércio. Então, a criação da Galeria, no centro de BH, na década de 1960, trouxe uma revitalização para a região, atraindo novas lojas para o entorno do local. Atualmente, a Galeria segue sendo um ponto de referência para toda capital. É uma âncora para a região do hipercentro de BH”, afirma Joel Souza, da CDL-BH.
Joel Souza ainda destaca a importância da Galeria Ouvidor para a cultura mineira. “O espaço, por ser tradicional, resgata a arte e a cultura mineira. Por exemplo, os artesãos que estão ali, estão desenvolvendo produtos mineiros, peças de Belo Horizonte. Além disso, quando as pessoas vão ao local para comprar algum adereço, fantasia ou peruca para o Carnaval de BH, eles estão reforçando a cultura. A Galeria Ouvidor é a cara de BH, ela segue pulsando muito forte no meio da capital e reflete muito o retrato do que é o comércio de Belo Horizonte. As empresas que ainda permanecem, mesmo após tantos anos, é porque foram se reinventando, assim como fez e faz a Galeria”, completa.
Lojas
Com o número de lojas da Ouvidor, atingindo a casa das centenas, fica difícil falar de todas, por isso, separamos dois pontos que representam a tradição, o comércio e a mineiridade do espaço, para contar um pouco mais de suas histórias.
Art Nobre
Há mais de 30 anos na Galeria, a loja Art’ Nobre ocupa, praticamente, todo o 4 º andar e tem como especialidade do espaço as embalagens. Com mais de 30 colaboradores na loja, a Art’ Nobre também possui outros 30 na sua fábrica, onde alguns de seus produtos são confeccionados.
Entre as principais peças vendidas no estabelecimento, estão as embalagens de presentes, lembranças de casamento, aniversário e batizados, sendo todas as caixas vendidas pela loja, produzidas na fábrica da Art’ Nobre. Além destes utensílios, o espaço também vende itens de decoração e fragrâncias. A Gerente Geral, Cassilene dos Santos, explica que a tradição do espaço é graças ao cuidado da empresa com o cliente.
Às vezes, alguns clientes chegam aqui nos pedindo mil peças de uma caixa, a gente com muita dedicação se propõe a ter disponível para eles. Nós também temos muito cuidado com os nossos clientes, o nosso lema é esse: o cliente tem que sair daqui satisfeito bem atendido e com o produto”, completa.
A loja Art’ Nobre fica aberta de segunda a sexta, das 9h às 18h e das 9h às 13h no sábado, no 4° andar da Galeria Ouvidor.
Pastelaria Ouvidor
Quem visita a Galeria precisa passar pela Pastelaria Ouvidor. O famoso pastel com caldo de cano dessa lanchonete é mais uma combinação que faz parte do Galeria. Criada há 60 anos, juntamente com a inauguração da Ouvidor, inicialmente era uma confeitaria, mas, para adaptar ao gosto da clientela, o espaço se tornou uma pastelaria.
Antônio Lara, administrador da pastelaria, conta que o negócio é um projeto de família, que começou com o pai dele: “Acompanhando a ideia revolucionária da Galeria, meu pai teve a ideia de criar uma pastelaria, indo contra o padrão do local na época, que antes só buscava atender a elite e não tinha espaço para o povo. Ele fez essa sociedade com um amigo e a Pastelaria se tornou um sucesso, atraindo um novo perfil de público para o espaço,” conta.
Perguntado sobre o segredo do sucesso dos pasteis de queijo, carne e banana, Antônio revela que a receita é feita a partir de uma seleção caprichada de ingredientes de qualidade. “Nós que preparamos cada etapa da massa, o queijo usado no pastel é artesanal, a carne do recheio é processada aqui e os temperos também. Assim como todo o mundo, a Pastelaria sofreu com o período da Pandemia, mas, apesar disso, temos conseguido manter uma crescente ano a ano, além da inflação”, finaliza. Atualmente, a Pastelaria possui 28 funcionários e já está na sua segunda geração de gestão e os planos para o futuro são de que mais gerações cuidem da pastelaria, para os próximos 60 anos.
A Pastelaria do Ouvidor fica aberta de segunda a sexta das 7h às 19h10. Aos sábados, ela abre das 7h às 10h.
A Galeria Ouvidor fica localizada na Rua São Paulo, 656, Centro de BH. Os horários de funcionamento são de segunda a sexta, das 9h às 19h e aos sábados das 9h às 14h.