Os termômetros no mundo têm aumentado cada vez mais. Dados da Universidade do Maine divulgados em 2023 registraram que houve um aumento na temperatura do mundo de 17,01°C, batendo o recorde anterior, de 2016, que era de 16,92ºC. Nesse contexto, governos, empresas e sociedade civil vêm percebendo a necessidade de uma adaptação da produção industrial, além de uma melhora no ciclo de reciclagem e de reuso.
A política de Economia Circular tem demonstrado esse potencial e ganhado atenção em conferências – como na COP 28 , que aconteceu em dezembro de 2023 em Dubai -, em discussões parlamentares e no 3º setor. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) explica que o termo Economia Circular pode ser compreendido como uma proposta de modelo econômico que busca soluções, tendo como parâmetro fenômenos ecológicos, a gestão do ciclo de vida e uma maior oferta de serviços em detrimento da venda apenas de produtos físico.
A deputada estadual pelo estado de Goiás, Rosângela Rezende (Agir), que esteve na COP 28, e é responsável pela frente ambiental do seu estado, tem buscado, em seu primeiro ano de mandato, alternativas para lidar com essa pauta. Rosângela conta que descobriu a política de Economia Circular a partir de estratégias já existentes no estado, e que vem buscando ampliar isso na sua região.
Políticas públicas maiores possuem uma dificuldade de implementação em municípios do interior, sendo preciso que haja um representante político na região que busque viabilizar as políticas que o estado oferece, explica a deputada”.
Rosângela Rezende (Agir)
Para exemplificar, Rosângela lembra do programa criado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), que tem buscado ampliar para todos os municípios do estado. O projeto prevê o plantio de mil mudas típicas do cerrado – por município – na época de chuvas, em especial, nas áreas de proteção de nascentes e nas áreas degradadas, o plantio dessas mudas faz parte do modelo que a economia circular propõe de regenerar o meio ambiente e destruí-lo menos. Há também um trabalho sendo realizado com parceiros governamentais, da sociedade civil e do terceiro setor, para a fomentação de um curso do legislativo em gestão ambiental, focado para vereadores dos municípios que cuidam da comissão de meio ambiente.
Dentro do programa virada ambiental, plantamos mudas nos 204 municípios do estado, uma ação que ultrapassou o ato simbólico, e tem como fato principal a sensibilização para o cuidado com o meio ambiente”.
Rosângela Rezende (Agir)
A deputada estadual Rosângela Rezende, contou também sobre as soluções apresentadas na conferência, que contemplam a produção de energia, a solução de lixões e a transferência de tecnologias de países que possuem esse processo mais desenvolvido para aqueles que ainda estão em processo de adaptação. A partir do segundo ponto das soluções, a deputada contou sobre a motivação junto à Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) em enfrentar os problemas dos lixões. Após o fechamento dos lixões, não seria suficiente a criação de aterros sanitários, pois ao pensar em uma política ambiental que seja mais efetiva, é necessário pensar na reciclagem e no reuso, são duas estratégias para a diminuir a produção de resíduos sólidos, explicou a deputada Rosângela Rezende.
A deputada também falou da importância de fortalecer cooperativas e catadores, mas salienta que esse processo possui uma certa dificuldade, ainda que seja fundamental para o processo de reciclagem.
A economista Taiane Las Casas, professora responsável pela disciplina de Economia Política Internacional no curso de Relações Internacionais da PUC Minas, explica que muito da literatura que trata da Economia Circular evidencia que a contribuição mais importante está na esfera dos municípios:
Há uma maior facilidade em identificar o que acontece em toda a cadeia, desde a produção, podendo criar facilitações no processo de reuso e aproveitamento para reciclagem dos bens consumidos”.
Taiane Las Casas
Taiane também explica que a união de forças, entre governo, sociedade civil e empresas é positiva. “A política de Economia Circular é também um interesse das empresas, já que o pacto tecnológico que acompanha esse processo pode aumentar as margens de lucro”, explica. Levando em conta que o objetivo das empresas é o lucro, o que elas vão buscar fazer em relação a uma possível transição é o aumento do lucro usando tecnologia, assim, modificando o padrão de produção. As empresas que ficarem à frente, com um produto ambientalmente correto e economicamente viável, poderão manter um monopólio, conforme explica a professora. “ Tecnologia e pesquisa são indispensáveis no processo de resolver o problema ambiental. Não necessariamente uma empresa terá que abrir mão dos lucros, a menos que haja imposições governamentais, como tributação e restrições”.
Taiane explica como o processo da Economia Circular pode alterar cadeias de produção inteiras, modificando a lógica de manufatura. Para ela, essa política econômica de reuso e reaproveitamento está muito associada ao desenvolvimento de tecnologias. A professora enfatiza que essa política só poderá ganhar força e espaço com o empoderamento do poder público, ou seja, quando a sociedade tornar-se mais consciente.
Significa escolher vereadores, prefeitos e governadores comprometidos com a pauta ambiental”.
Taiane Las Casas
Os catadores e a reciclagem
Um exemplo de empresa que trabalha do primeiro setor com a economia circular, é da SOLOS. Gabriela Guimarães, responsável por redes e estratégias na SOLOS conta que o objetivo da empresa é fazer a reciclagem no Brasil, uma forma de implementar a economia circular. E a empresa tem três frentes de trabalho principais, para que isso se viabilize. A primeira delas contempla conteúdo e experiências sustentáveis, que busca levar informação para a ponta, ou seja, para os geradores de resíduos, com experiências interativas que possam evidenciar a importância do descarte correto de lixo.
A segunda frente é a de sistemas inteligentes de coleta, que visa proporcionar coleta seletiva porta a porta, desde pequenos vilarejos a cidades maiores, dando prioridade a transportes com baixa pegada de carbono, a uma roteirização, mobilização e sensibilização de geradores e da inclusão social e produtiva das cooperativas. A última, dentre as principais frentes de projetos da SOLOS, engloba a gestão de resíduos sólidos em grandes eventos – como o Carnaval de Salvador -, em que a empresa monta infraestruturas que garantam o mínimo de conforto as cooperativas para que realizem seu serviço, contemplando também a inclusão de catadores autônomos. “O papel da SOLOS é unir todas as pontas, servindo como um meio para facilitar para todos os lados”, enfatiza Gabriela.
Gabriela Guimarães conta que as principais melhorias percebidas pela SOLOS contam com uma melhor remuneração dos catadores, que passam a ter mais estabilidade. A SOLOS possibilita que o catador possa receber pelo seu trabalho ambiental, pela sua diária e toda a cadeia de trabalho realizada. Outra melhoria é o processo de gestão de dados.
“A reciclagem no Carnaval de Salvador existe há muito tempo, e esse trabalho efetuado, em maioria por catadores, que em geral vivem em condições sub humanas, a partir da ação da empresa têm a possibilidade de garantir melhor estrutura, identificação e segurança”, explica Gabriela Guimarães. A representante da SOLOS enfatiza que é necessário a garantia do repasse de dinheiro para a ponta. Segundo ela, existe um interesse na reciclagem, muitas empresas grandes geram lucro com esse processo, mas, ao observar toda a cadeia do processo de reciclagem, quem fez o trabalho “pesado”, em geral, não recebe a bonificação justa pelo trabalho.
Para a reciclagem acontecer hoje no Brasil, é necessário que não só um ator tome frente; é preciso criar uma união entre os atores – empresas, prefeituras, geradores pequenos (domiciliar), geradores grandes (restaurantes e bares) -, só assim seria possível exercer uma efetiva logística reversa”.
Gabriela Guimarães, SOLOS
Para que mais empresas possam seguir esse movimento da SOLOS, é necessário, primeiramente, que haja um diagnóstico do que se produz e o que se gera a partir disso, se são embalagens recicláveis ou não. “A garantia de que cooperativas e catadores tenham uma estrutura adequada também é necessária, e o incentivo à educação ambiental, de modo que comunique ao público consumidor como fazer o descarte do material produzido”, explica Gabriela.
O mundo inteiro está assustado com as mudanças climáticas, só porque não parece ter grandes campanhas e grandes mobilizações, não significa que não tenha trabalho sendo feito. É um trabalho de formiga”.
Taiane Las Casas