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Conclave em 2025 é desafiado por novas dinâmicas de comunicação e expectativas globais

vista aérea do vaticano

Vista aérea do Vaticano / por Matthias_Lemm via pixabay

“Assim que o Papa é sepultado, ocorrem os nove diales – nove dias de celebração na intenção do sufrágio, ou seja, recomendando a alma do Papa a Deus. Depois de 15 a 20 dias da morte do papa, o Conclave é iniciado com uma missa chamada Pro Eligendo, em que se reza pedindo a Deus discernimento para a eleição do Papa. Logo em seguida, um pouco mais à tarde, os cardeais entram na Capela Sistina para fazer o juramento de fidelidade, e aí inicia-se o Conclave”. Foi assim que o Padre Samuel Fidelis, Pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade e Diretor da Rede Catedral de Comunicação explicou os movimentos que culminaram no início das atividades do Conclave nesta quarta-feira, 7 de maio, na cidade do Vaticano, na Itália.

Padre Samuel Fidélis / arquivo pessoal

Ao fim do dia, a primeira fumaça preta já sinalizou que a decisão dos Cardeais reunidos na Capela Sistina ainda não chegou a um consenso: é preciso que ⅔ deles escolham o mesmo nome para a sucessão do Papa Francisco, falecido no último 21 de abril em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. 

Ainda que diferentes obras audiovisuais já tenham explorado os bastidores da cerimônia, com destaque para Conclave, filme de Edward Berger lançado em janeiro de 2025 no Brasil, ainda há muitas etapas que confundem fiéis e curiosos sobre o passo a passo até a eleição do novo Pontífice.  Um detalhe importante é que os cardeais votantes são sempre eleitos pelos papas anteriores, conforme explica o Pe. Samuel Fidélis, de modo que dos 133 votantes, 108 foram escolhidos durante o papado de Francisco: “Uma das atribuições do Papa é constituir o colégio dos cardeais, que são homens referências nas arquidioceses e dioceses ao redor do mundo. Eles ficam responsáveis pela administração da igreja na ausência do Papa e eleger o próximo”, detalha Pe. Samuel.

Marcus Tullius com Papa Francisco / arquivo pessoal

Marcus Tullius, mestre em Comunicação Social pela PUC Minas e especialista na comunicação da Igreja e do Vaticano, afirma que um dos grandes desafios para o próximo Papa será dialogar com o mundo com muitas mudanças e muitos conflitos, além de ser um conciliador dentro da própria Igreja. “Durante os seus 12 anos de pontificado, o Papa Francisco iniciou muitos processos, que muitos avançaram, muitos temas que às vezes eram considerados tabus na Igreja e que ele não considerou e deu passos significativos”. 

Ele cita como exemplo a ocupação de espaços de poder por mulheres e leigos, o acolhimento de migrantes, comunidades LGBTQIA+ e outros grupos vulneráveis​. “Por isso, vai precisar de ser um Papa conciliador, alguém que vai exercer essa grande capacidade de diálogo para escutar e lidar com essas realidades, que o Papa Francisco fazia com muita tranquilidade e com muita naturalidade.”

Marcus explica que o Vaticano possui o Dicastério para a Comunicação e a sala de imprensa da Santa Sé para comandar uma rede de comunicação ampla – com diversos veículos de comunicação de todo o mundo, além dos próprios. Durante o período conhecido como Sé Vacante (quando o trono de São Pedro fica vago), a comunicação oficial é coordenada pela sala de imprensa e pelo Camerlengo, figura responsável pela condução dos atos oficiais até a eleição do novo Papa​.

Apesar da tradição antiga, o conclave (processo de eleição papal) enfrenta desafios contemporâneos, em uma sociedade hipermidiatizada. A palavra conclave, como informa Tullius, “significa fechado, a chave; eles ficam incomunicáveis, então as informações não saem de lá”. Em tempos de redes sociais e fake news, a sala de imprensa vaticana precisará garantir que a “pouca informação que tem seja passada com transparência, com credibilidade, para evitar desinformação e especulações”​.

Marcus Tullius aposta que este conclave será especialmente desafiador por acontecer em um contexto midiático muito mais acelerado e vulnerável a boatos do que o de 2013. “Nós já tínhamos toda uma realidade de comunicação digital, de redes sociais, mas agora isso se dá de maneira muito mais ampla. A gente tem a própria desinformação, as fake news, tudo isso que a gente não contava no conclave anterior”​.

O Pe. Samuel  Fidelis acrescentou: “a Igreja é uma instituição muito tradicional que se comunica a partir da sua proposta de valor, da clareza da sua missão. Hoje, com essa ideia dessa simultaneidade impõe-se à sala de imprensa da Santa Sé um cuidado para resguardar aquilo que é o estilo de comunicação da igreja e ao mesmo tempo a garantia destas informações simultâneas”.

O legado de Papa Francisco

Jorge Mario Bergoglio foi eleito para o mais alto cargo da igreja católica em 2013. Foi o primeiro pontífice latino-americano, o primeiro jesuíta e o primeiro a adotar o nome Francisco. Como 266° papa, honrou a Igreja com um legado de fé e humanidade. Ele morreu na segunda-feira (21) aos 88 anos.

Papa Francisco / arquivo PUC Minas

Apesar de críticas, Francisco avançou em temas antes considerados tabus, como a acolhida a homossexuais, o papel das mulheres e o diálogo com outras religiões. Francisco será lembrado como um papa do diálogo e da escuta. Rompeu silêncios históricos e promoveu uma Igreja mais inclusiva, disposta a caminhar com os que antes eram marginalizados.

Em entrevista para o Colab, o professor e reitor da PUC Minas, Pe. Luis Henrique Eloy e Silva, destacou: “Ele [o papa] acabou mostrando também o rosto do nosso continente para a igreja do mundo todo, o que foi visto como um enriquecimento para as outras realidades que entendem que na catolicidade nós vivemos também um pouco das diferenças que compõem o grande corpo das culturas, das nações etc”.

Já o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e grão-chanceler da PUC Minas, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, acrescentou: “eu creio que, mesmo com o jeito próprio de ser do novo pontífice, seu sucessor — cada pessoa tem o seu jeito, a sua maneira de ser — esse modo simples, aberto, dialogal e inclusivo que ele viveu se tornou um modelo de vida para todos nós. Vale para nós como Igreja, para a sociedade, para que a gente aposte mais na fraternidade universal

Autoria de Isabella Silva e Rayssa Moura 

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