No começo de maio de 2022, foram lançadas as pré-candidaturas dos candidatos à presidência do Brasil para a corrida eleitoral deste ano. A discussão principal se deu em torno do lançamento da pré-candidatura de Lula e Bolsonaro, candidatos com maiores índices de intenção de voto, 44% e 32%, respectivamente.
Lula fez um grande evento em São Paulo, apresentado pela chefe de cozinha Bela Gil, no qual a cantora Teresa Cristina foi convidada para cantar o hino nacional. Bolsonaro já tinha participado anteriormente de eventos com teor político eleitoral. Segundo o site poder360, sua pré-candidatura foi lançada extraoficialmente no final de março em encontro divulgado como projeto do PL para incentivar a filiação, o Movimento Filia Brasil. A estratégia do partido de Bolsonaro visou evitar acusações de campanha antecipada e consequências jurídicas. Ambos os candidatos apostam na polarização de Bolsonaro contra Lula para compor as campanhas.
O caso Lula
Antes do evento de 7 de maio, Lula ainda mantinha suspense sobre o lançamento ou não de sua candidatura à presidência pelo PT. No mesmo dia do evento, Lula também lançou dois vídeos de campanha, um intitulado “Dois lados” e a nova versão do jingle da campanha de 1989, “Lula lá, brilha uma estrela”, cantado por artistas brasileiros.
Após o encontro em São Paulo, Lula seguiu para Minas Gerais, onde visitou Belo Horizonte, Contagem e Juiz de Fora como parte da campanha Lula Abraça Minas, em apoio ao então candidato ao senado pelo PT, Reginaldo Lopes, que depois retirou sua candidatura para coordenar a campanha de Lula em Minas.
O vídeo da campanha “Dois lados”, publicado por Lula em seus perfis de mídias sociais, tem caráter dualista, utilizando da mímese inversa, recurso usado em memes bolsonaristas desde as eleições de 2018. Como explica a professora de antropologia Letícia Cesarino em um fio no Twitter, a mimese inversa consiste na criação de uma visão com dois lados antagonistas que são apresentados da mesma forma, mas com conteúdo invertido. A proposta seria usar a estrutura do marketing bolsonarista contra ela mesma, sem recorrer ao compartilhamento de informações falsas.
A mímese inversa divide o mundo em 2 lados antagônicos, onde o inimigo é representado com a mesma forma, mas conteúdo invertido. Em vários textos, mostro como ela foi central nos memes bolsonaristas de 2018 (inclusive bati mto nessa tecla qdo conversei com a comunicação do PT). pic.twitter.com/wDlZPrenWe
— Letícia Cesarino 🌎 tweets in 🇧🇷 🇬🇧 (@letcesar) May 10, 2022
Em todos os eventos de lançamento de sua candidatura, Lula e aliados ressaltaram a luta pela democracia, evocando a mesma movimentação de 1989 e das Diretas Já. “As campanhas têm um mote, uma ou duas palavras que resumem a campanha. No caso do Lula, a palavra que talvez seja o mote é esperança, ou resistência, algo muito semelhante ao que foi feito na candidatura dele em 1989. Naquela ocasião, o clima era de mudança, mas também de medo. E muitos candidatos mas, com mais força, o Lula, buscavam se associar à imagem de resistência e de que a esperança venceria o medo”, explica Érica Anita, doutora em ciência política pela UFMG.
Também segundo o cientista político Malco Camargos, professor da PUC Minas e Doutor em Ciência Política pelo Iuperj, ataques de Bolsonaro à instituições governamentais, como o STF, criam uma atmosfera propensa para a utilização da luta pela democracia como estratégia contra o discurso bolsonarista.
A busca pela frente ampla
Outro foco da campanha de Lula é a busca pelos eleitores de centro e os indecisos. Para atingir essa parcela, o candidato aposta nas parcerias com partidos e figuras políticas mais ao centro, no intuito de acabar com a hegemonia do vermelho e mostrar que está aberto ao diálogo com todos os grupos. A maior representação disso é a escolha de seu vice, Geraldo Alckmin. A participação do candidato à presidência em 2006 pelo PSDB é uma parte fundamental da estrutura da frente ampla idealizada por Lula.
Segundo análise de José Roberto de Toledo, editor-executivo da revista Piauí, no podcast Foro de Teresina, Alckmin atuará em quatro grupos principais, nos quais Lula não é popular: o agronegócio, as igrejas, o sul-sudeste e os idosos. Não é a primeira vez que Lula utiliza de alianças para adentrar grupos em que tem menor entrada. Segundo Érica Anita, o antigo vice-candidato, José Alencar, exercia o mesmo papel.
Além da tentativa de conquistar o eleitorado de centro, Lula também está apostando no voto de artistas e militantes. Em Belo Horizonte, o evento sediado no Expominas foi apresentado pela cantora Aline Calixto e contou com a participação do humorista Gustavo Mendes e da youtuber Laura Sabino. Durante o discurso, Lula falou da volta do Ministério da Cultura e se dirigiu aos artistas quando falou dos planos para valorização das artes. Após o evento de pré-lançamento de campanha, Lula fez um encontro com representantes da cultura em Belo Horizonte. Durante o encontro, os artistas conversaram sobre a retomada dos símbolos nacionais e a ressignificação da bandeira do Brasil.
O caso Bolsonaro
A campanha de Bolsonaro à presidência já vem sendo pautada pelos apoiadores desde antes do lançamento oficial das pré-candidaturas. No evento do dia 27 de março, Bolsonaro afirmou que aquele era o lançamento de sua pré-candidatura, mas não sua campanha oficial. “É o lançamento da pré-candidatura. Não começa a campanha ainda, tá, a campanha é 45 dias antes. Mas é [para] mostrar que eu sou candidato à reeleição”, disse o presidente.
Na eleição de 2018, Bolsonaro usou, principalmente, o discurso contra a corrupção e o movimento antipetista para conquistar o eleitorado, retomando as acusações contra Lula na operação Lava Jato. Para Malco Camargos, essa estratégia se manterá nas eleições de 2022. “Na falta de entregas em relação às políticas públicas e a economia, essa é pauta que resta ao presidente para tentar desbancar o seu adversário”, explica o cientista. Também na visão de Érica Anita, Bolsonaro deve recorrer ao antipetismo como forma de prejudicar a imagem de Lula.
Bolsonaro usa a corrupção não como tema de campanha, usa como forma de ataque ao PT e a Lula e, certamente, vai recorrer a isso. Nesse mesmo sentido, o antipetismo também será um recurso estratégico da campanha de Bolsonaro, pois é na parcela de eleitores antipetistas que mora a disputa de votos dos opositores de Lula.
Erica Anita, doutora em Ciência Política pela UFMG
Junto ao discurso anti-Lula, a campanha do atual presidente busca tomar o eleitorado nordestino, que sempre esteve majoritariamente ligado ao PT. Segundo o pesquisador Manoel Vilas Boas, diretor do Doxa Instituto de Pesquisa, a estratégia de Bolsonaro no Nordeste se dá pela apropriação de obras começadas por governos anteriores, principalmente a transposição do Rio São Francisco, e pela distribuição de recursos para parlamentares da região.
Com o intuito de se distanciar dos problemas ligados à economia brasileira e aumentar sua intenção de voto, Bolsonaro associa os problemas econômicos aos governos anteriores e aos governos dos estados. Durante o evento de filiação do PL, em março, Bolsonaro afirmou que os governadores seriam os culpados pelo alto valor do combustível. No início de maio, após críticas ao aumento do diesel, foi anunciada a troca do Ministro de Minas e Energia e a nomeação de Adolfo Sachsida para o cargo. Como mostrado em reportagem do G1 sobre a troca do ministro, durante live em mídias sociais, o presidente voltou a criticar a Petrobras e chamou de “absurdo” o lucro gerado pela empresa.
As duas campanhas, tanto de Lula, quanto de Bolsonaro, utilizam do mesmo discurso polarizado que foi marca da eleição presidencial de 2018, ano em que a campanha bolsonarista se fortaleceu pelo compartilhamento de conteúdo no Facebook e no Whatsapp. Em 2022, tudo indica que a estratégia se centrará no Telegram, no qual grupos de extrema direita cresceram durante a pandemia. Nas últimas eleições, a presença da campanha bolsonarista nas mídias sociais popularizou o atual presidente e garantiu sua eleição, porém, em 2022, todos os candidatos estão atentos à importância da presença digital. Nas palavras de Malco Camargos, “A pandemia acelerou os processos de mudança e cada vez mais as pessoas estão acostumadas a se informar pelas redes. A diferença é que, em 2022, todos os candidatos estão atentos a isso, e, em 2018, um candidato teve uma estratégia muito mais eficiente do que os demais”.