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As dificuldades do movimento clubber em BH

Comemoração de 3 anos da festa Mientras Dura / Divulgação: Dayane Tropicaos e Lucas Chagas

A pandemia serviu para mostrar que a arte é algo constantemente presente, e de extrema importância na vida das pessoas. Sem as artes musicais, dramáticas, performáticas, plásticas, entre outros estilos, a vida seria regada a tédio. Os artistas belo-horizontinos se mostraram resistentes em se reinventar diariamente para sobreviver à pandemia. A cena clubber belo-horizontina é um exemplo disso.

O movimento clubber tem suas bases em meados do século XX, quando em cidades como Chicago e Detroit, nos Estados Unidos, surgiam estilos musicais como House e Techno. Isso possibilitou que a música eletrônica ganhasse status e adeptos, tornando-se uma cena importante que culminou com o surgimento das festas rave. A cena clubber, cujas festas são também um ato performativo de celebração e reiteração de suas raízes afrolatinas e LGBTQIA+, reivindica um legado histórico atrelado à música eletrônica.

Em Belo Horizonte, a cena está desde 2015 em ascensão após um período estagnado desde o início dos anos 2000. Na cidade, é possível destacar organizações como 101Ø, Masterplano (coletivos independentes de música eletrônica de BH) e Mientras Dura (festa), que realizam, além de eventos em boates ou espaços públicos, de forma paga ou gratuita, momentos culturais como showcases e oficinas para divulgar arte independente. Vale também ressaltar que, na capital mineira, clubes como Deputamadre Club, no Bairro Floresta, são nacionalmente reconhecidos, assim como os coletivos independentes que se formaram ao longo dos últimos seis anos.

Para Yonanda Santos, de 32 anos, co-criadora e produtora da festa Mientras Dura, a cena clubber é a ambiência onde as pessoas se conectam através da afetividade pela música. Festas que mudam a percepção de mundo das pessoas, a partir da convivência de diversos corpos, em laboratórios sociais, musicais e estéticos, onde a diversidade reina. 

A música das festas do movimento clubber cria uma aura de afeto, que toca o coração do público. Para o produtor e DJ do coletivo independente Masterplano, Pedro Pedro, 28 anos, a cena clubber é um espaço seguro para diversos corpos, onde as minorias reivindicam seus posicionamentos políticos através de expressões na música eletrônica. A Masterplano produz festa, mas também oficinas, showcases e até cineclube.

Como a cena tem resistido à pandemia?

Desde os primeiros decretos governamentais, de restrição às atividades presenciais, os coletivos belo-horizontinos têm realizado atividades on-line, reinventando a maneira de realizar festas eletrônicas. Entre festas virtuais, vendas de merchandising e financiamentos coletivos, a cena clubber resiste e mostra seu potencial artístico. 

Pedro, da Masterplano, diz que havia um grande projeto engatilhado para o ano de 2020, mas devido à pandemia, teve que ser completamente readaptado para o meio virtual. Ele lamenta não ter havido fomento nem amparo estadual para os produtores da cena clubber. O coletivo Masterplano conseguiu, contudo, auxílio pela Lei Aldir Blanc, mas que foi insuficiente para os integrantes do coletivo viverem apenas da festa. Todos precisaram recorrer a  trabalhos paralelos e financiamentos coletivos.

Pedro acredita que a pandemia gerou uma pulsão de encontrar uma diversão após a vacina, por isso, a equipe se manteve adepta ao coletivo, sem desistir, com a expectativa de engatar projetos que já estão sendo trabalhados durante a pandemia. 

Yonanda e Breno Oliveira, 32 anos, também co-criador da Mientras Dura, não desistiram do projeto, mas também não conseguiram produzir durante a pandemia, pois acreditam que o clima das festas on-line jamais se igualará ao das presenciais. Os DJs residentes até chegaram a tocar em alguns eventos on-line, porém o projeto artístico da Mientras Dura não se manteve ativo durante a pandemia da covid-19.

Conforme a DJ e criadora da 101Ø, Izabela Egidio, 29 anos, o coletivo artístico surgiu da necessidade de se manter financeiramente. Em 2015, quando morava com amigos em um apartamento na Rua da Bahia, número 1010, no centro de BH, enxergaram na arte e na retomada do movimento clubber uma possibilidade de se manterem enquanto se expressavam artisticamente e esteticamente através da 101Ø.

“Acho que nunca passou pela nossa cabeça ficar mais de um ano sem trabalhar… O que a gente fez pra poder se ‘adaptar’ foram algumas festas online no ano passado, vendemos alguns brindes e tentamos ao máximo não meter o louco e desistir de tudo”, conta Izabela.

A DJ revela que o coletivo tinha planos de sair com um showcase pelo Brasil, e seus DJs tinham datas fechadas até em festivais da Europa, mas que, de repente, com a pandemia, tiveram que lidar com a frustração. Porém não desistiram. Até hoje mantém o projeto vivo e espera pela vacinação da população adulta, para que retomem as atividades presenciais em segurança. Izabela conta que já se sentiu desrespeitada ao ser cobrada por algumas pessoas a realizar eventos clandestinos, mas que conseguiu resistir.

A ajuda do público

Há um consenso entre os três projetos de que a principal demanda do movimento e dos coletivos é conseguir verba para se manterem. Durante a pandemia, foram feitos financiamentos coletivos, nos quais o público pôde contribuir não apenas com a subsistência dos projetos, mas também com parceiros, como equipes de segurança, iluminação e som. 

Alguns dos coletivos realizaram também a venda de produtos das festas para a manutenção financeira do projeto. Embora diversos eventos do movimento sejam  gratuitos ou tenham valor de ingresso simbólico, há custos para os coletivos que os planejam. Num plano pós-pandemia, o auxílio do público será essencial, seja pela compra de ingressos e bebidas, seja pela participação em financiamentos coletivos. 

Conteúdo produzido por Gus D’Avila, João Pedro Costa e Vitor Zanol, estudantes de jornalismo da PUC Minas.
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