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Arte enriquece a vida dos jovens

Professora e alunos do projeto sociocultural Cria em frente a sede Cia Condelo. (Foto: Byanca Madureira)

Despertando sentimentos no público, os espetáculos promovidos pelas companhias artísticas representam como ações culturais para a sociedade. Ao ensinar e fazer refletir trazem questões relativas aos valores, ao desenvolvimento e comportamento humano. E direcionarem a inclusão e interação social tanto dos seus integrantes quanto dos seus espectadores.

A “Cia Fantástica”, como é descrita pelos integrantes e ex-membros do grupo de Teatro e Cia Condelon, é um grupo teatral criado em 1995. Ela produz espetáculos e textos originais, criados pelo seu diretor Celio Henrique Matilde Diana, que teve como primeiro espetáculo “Pedaços de Vida”.

“Deito toda noite e agradeço”, diz Célio Henrique Diana, ou Riquinho Diana como é conhecido: “O teatro e Cia Condelon vai além de uma realização pessoal. Fazer, trabalhar com o que se gosta é uma realização profissional”. Admirando o ser humano e essa atualidade louca, o cotidiano, as angústias humanas, Riquinho obtem, cuidadosamente e prazerosamente, as inspirações temáticas para escrever suas peças.

Professora e alunos do projeto Cria utilizam a sede da Cia Condelon (Foto: Byanca Madureira)

Cotidiano

Com uma rotina de ensaios e apresentações a companhia, que é itinerante, circula com seus espetáculos em várias cidades. Com o objetivo de focar no público, ela usa o espaço das escolas para desenvolver o seu trabalho teatral. Direcionadas aos jovens e adolescentes, além de divertir, suas peças abordam vários temas da vida cotidiana, como amor, violência, sexualidade, drogas, internet, fazendo um alerta às famílias sobre os cuidados na formação dos jovens.

Em 2015, Riquinho Diana propôs, ao Conselho Metropolitano de Belo Horizonte, um projeto sociocultural chamado Cria, que possibilitou a abertura de um novo espaço de cursos, treinamentos, que atualmente atende 80 crianças e adolescentes, ensinando teatro e dança gratuitamente. Realizado em parceria com o Conselho Metropolitano de Belo Horizonte (CMBH), da Sociedade São Vicente de Paulo, o projeto conta com uma equipe de um coordenador (Riquinho), três professores, um técnico e um faxineiro.

Para ele, tanto o teatro quanto o projeto incentivam os jovens às boas relações, com valores fundamentais para a sociedade em que vivem. “Realizar, ajudar, colaborar, dividir, ceder, doar”, é isso que ele julga importante, ao fazer parte dos sonhos desses jovens. “As nossas resistências enquanto artistas, enquanto atores estão muito ligadas à resistência nacional. Acreditamos que podemos mudar, transformar cada pessoa, fazer a diferença, plantando uma “semente” por dia”, diz Riquinho Diana.

Marina Torquetti Drosghic, ex- integrante do grupo Cia Condelon, comenta o quanto o grupo foi fundamental na sua formação cultural e desenvolvimento pessoal e profissional. “O teatro desenvolve grande desinibição, como facilidade de falar em público, o que pode ajudar muitos estes jovens em seus futuros profissionais. Como me ajudou”.

Atualmente como advogada, o teatro a ajudou a ter mais concentração, compromisso, ser comunicativa e ter facilidade em fazer amizades: “É um pedaço da minha vida que levo com todo amor e carinho”.

“Companhia Condelon é uma família”, conta Raphael Lincol, ator e ex-integrante do grupo. “Não realizávamos só atuação, éramos oficineiros. Apresentávamos em escolas municipais, estaduais, em praças e outros locais. O teatro apresentado pelo Condelon é educativo”. Ele acrescenta: “É possível perceber a importância do teatro, como ele é capaz de evitar muitas tragédias sociais, servindo como uma forma de desenvolvimento e mudança na vida das pessoas. O aprendizado é contínuo e os laços criados são eternos. É, através dele, que você aprende a correr atrás dos seus objetivos”.

O palco é a vida real

“O palco é vida real”, disse certa vez a cantora Marisa Monte. Por acreditarem no poder transformador da arte e da educação, profissionais do Grupo Corpo Companhia de Dança criaram, em 1998, uma ONG sem fins lucrativos, o Corpo Cidadão. Eles desenvolvem esse projeto para levar a oportunidade do experimento da arte-educação (dança, música e artes visuais) para crianças, jovens e adolescentes das comunidades menos favorecidas.

Oswaldo Braga assessor de comunicação do Corpo Cidadão, informa sobre os três projetos desenvolvidos pelo ONG. O grupo de arte-educação, em parceria com as escolas públicas, oferece oficinas de dança, música e artes visuais no contraturno escolar (de manhã para quem estuda a tarde e a tarde para quem estuda no período da manhã) dos meninos de 6 a 12 anos. “No primeiro mês eles participam das três modalidades artísticas (dança música e artes visuais); no segundo, eles escolhem entre duas preferidas e seguem ao longo do ano praticando essas modalidades”, diz Oswaldo.

O projeto que oferta vaga para 50 crianças no período da manhã e 50 no período da tarde, duas vezes por semana, conta com uma equipe de cinco pessoas (um coordenador, um assistente e um professor para cada modalidade).

Há também dois grupos experimentais: o Ged (grupo de dança contemporânea) e o Gedu (grupo de danças urbanas). Criados em 2005, eles são formados por jovens de 13 a 26 anos, três vezes por semana durante 12 horas semanais. A entrada é realizada por meio de uma audição de seleção de novos bailarinos, até os 21 anos.

Gabriela Brito Assumpção formada em jornalismo e estudante do Cefart (Centro de Formação Artística e Tecnológica), participa há dois anos e meio do grupo Ged, composto por 25 jovens. Ela diz que o projeto realizado pelo Corpo Cidadão é muito importante: “Além de acolherem talentos da cidade e região metropolitana, é dada a oportunidade para que esses jovens conheçam artistas reconhecidos de Belo Horizonte, ingressem no mercado de trabalho, utilizando a dança como um meio para formarem cidadãos”.

Primeiro, eles têm balé com a ensaiadora, professora e ex-bailarina do Grupo Corpo, Daniele Pavan, depois há os ensaios, alguns feitos pelo coreógrafo Rodrigo Pederneiras, do Grupo Corpo. Gabriela ainda diz que o projeto mudou a sua vida, seus objetivos e sua personalidade; ampliou sua visão sobre a sociedade, além de ter feito novas amizades. O outro grupo experimental é o Gedu, que trabalha com danças urbanas, strip dances e todas as suas variações, com ensaios na escola Fazendinha, que cede o espaço.“Esses jovens e adolescentes entendem que estão tendo uma oportunidade de ouro por participarem de um projeto de um grupo de renome, eles recebem uma formação bem completa. Essa oportunidade do fazer artístico eleva a autoestima, a autoconfiança e faz com que esses jovens se atrevam a outras atividades, em várias áreas profissionais, essa é a maior contribuição do Corpo Cidadão para a vida desses jovens”, diz Oswaldo Braga.

No começo do ano é escolhido um tema para ser trabalhado. Ambos os grupos preparam anualmente um espetáculo de fim de ano, quando se apresentam em um grande teatro da cidade e também para a comunidade.

A utopia

O coreógrafo e ex-aluno do Corpo Cidadão e Grupo Corpo, Ronilson Luiz Mário (nome artístico Ronilso Nego), 38 anos, que é coreógrafo nesses três grupos de terça a sexta-feira, diz que esses projetos ajudam a formar pessoas com mais respeito ao próximo e às diferenças. “O conhecimento é horizontal, há uma troca de ideias. A inspiração para criação das apresentações vem da troca de energia, da minha mente com o corpo do outro”.

No Projeto Cria, adolescentes aprendem teatro e dança (Foto: Byanca Madureiro)

Ele, que é profissional de dança, também realiza trabalhos paralelos, como workshops, um projeto pessoal junto à comunidade na Vila Acaba Mundo, às segundas-feiras e finais de semana, quando ensina arte para os jovens. Há também outro projeto que se chama Quintal da Arte, que não conta totalmente com a participação do Corpo Cidadão, no qual ele transmite seus conhecimentos à sociedade.

Ambas as companhias sofrem o reflexo da crise, contam com poucos patrocinadores, pouco investimento e mesmo a falta de maior reconhecimento da população e das autoridades municipais, estaduais e federais.

Dizem que o desafio é contínuo, falta transporte para os meninos do projeto, mas o privilégio de fazer parte dos sonhos desses jovens e poder ensinar, para quem quer realmente aprender, não tem preço!

Reportagem produzida por Byanca Madureira e originalmente publicada na revista Metáfora.
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