Parecia um sonho. Na verdade, um pesadelo. Era aquele tipo de sonho que parece tão real que não conseguimos diferenciar da realidade. As imagens que passavam por sua cabeça, algumas eram abstratas. Ela via apenas reflexos de vermelho e preto, mas outras imagens tinham uma riqueza de detalhes maior do que qualquer filme do Tarantino. Era muito para uma criança de 10 anos.
Ao acordar via seu quarto pintado de vermelho e tudo o que conseguia pensar era no preço daquela mudança. Até hoje se pergunta por que o serviço foi feito, sendo que não foi chamado. Não era justo, não era nem a cor que ela gostava. Ela via aqueles pintores quase todos os dias, era um serviço requisitado no lugar em que morava. O problema era que quem os mandava não morava ali, e eles sempre deixavam bagunça por onde passavam. Os moradores não ficavam satisfeitos, mas eram os únicos que pintavam aquele tipo de trabalho.
Outro dia, vieram fazer um serviço e deixaram tinta vermelha cair numa cadeira de plástico branca. Aquela tinta era única, tinha um nome, um endereço, uma história, um tom vívido. Mas não se importaram, porque para eles era uma tinta barata. Assim como todas as tintas que usam, eles pintam destruição disfarçada de reforma e é sempre a mesma tela com a mesma cor. Aquele era só mais um dia em Jacarezinho.
Agora, aquela criança irá crescer observando sempre o tom de vermelho do seu quarto e, naquele local, aquela tinta nunca vai sair. Podem se passar anos, podem repintar o quarto, podem mudar de casa, mas o que sempre ficará em sua memória, serão os tons de vermelho.
Crônica desenvolvida por Bárbara Faria (2° período)