por Gabriel Matavel
O pós-modernismo nos deu alguns presentes interessantes, dentre eles está a indignação seletiva. Presos em nosso Mundo de obsolescência programada (tanto de aparelhos quanto de pessoas, diga-se de passagem), o ser humano se perdeu entre o natural e o digital e caminha para um deserto de egoísmo. The Square deixa claro que arte é importante e respira, está viva, assim como o individualismo daqueles ali presentes. Bastava a exposição de uma artista que não aparece em momento algum do filme tentar suscitar um tipo de contrato social de individuo para individuo, que tudo veio à baixo.
Mendigos povoam o cenário o tempo todo e estão largados ao léu, ; um curador de museu se sente no direito de ameaçar um prédio inteiro por não saber o apartamento do assaltante que levou seus pertences e está tudo bem, ; o protagonista perde suas filhas e pede um morador de rua para vigiar seus pertences de uma maneira bastante grossa e está tudo bem. Quando a história ameaça aqueles no poder tudo muda de figura. Uma representante de uma ONG vai às ruas e pergunta “Deseja salvar uma vida?” e é recusada o tempo todo, mas assim que um vídeo para a promoção da exposição do museu se utiliza de uma criança branca e loira como moradora de rua, todo o país se volta contra.
Anos atrás, a informação se mantinha em espaços únicos e fora do antro doméstico, ao a levarmos para casa mudávamos e redirecionávamos o que chamamos de “interessante”. O filme se aproveita bastante dessa retórica de consumidores atentos ao celular e não apreciadores de arte, não deixando a desejar ao provar como o protagonista é egoísta e somente percebe isso sendo confrontado diretamente tendo as consequências indo além de uma ressaca de sábado à noite.
Os celulares e a tecnologia móvel no geral fecharam o ciclo do individualismo para o contemporâneo, Christian o protagonista do filme, está em constante procura do moderno e atraente para seu museu. Passamos quase uma hora e dez minutos da história vendo como é “difícil” e complicado seu emprego e sua vida só que ao desenvolver da história o roteiro expõe bruscamente as ações do protagonista elucidando como tudo que todos fazem têm sim consequência e as pessoas ao nosso redor tem sentimentos como os nossos. Anne, é uma jornalista seduzida por Christian e logo entende o homem se sentindo inferiorizada a todo momento por ele, e no ponto de vista dele a situação é comum como qualquer outro dia. Ao decorrer da história vamos do céu ao inferno na vida daquelas pessoas e a arte sempre ali presente, a cena de um jantar com performance expôs em todos os atos os limites da humanidade em meio a uma mostra do primitivo na modernidade. Mulheres são abusadas, copos quebrados e um aviso ao início: ”Não demonstrem fraqueza, o animal sente cheiro”; O performer em todos seus movimentos extraiu daquele público rico e hipócrita o porquê deles se portarem daquela forma e o porquê da estrutura social ter evoluído como evoluiu, infelizmente deixando alguns de fora. Cinema de primeira “The Square” é obrigatório pra qualquer humano que entrou em contato com esse texto e qualquer um que pretende se tornar artista algum dia, vale a conferida.