Eu Indico: La Dolce Vita

Por: Gabriel Werneck

Federico Fellini foi um gênio, seu trabalho até hoje inspira e emociona inúmeros escritores e diretores. Escolher apenas uma de suas obras para definir a amplitude da sua criação é um trabalho impossível de ser feito, tamanha a profundidade em cada um dos seus traços.

Escolho, porém, referenciar aquele que mais me marcou e, embora fique triste por não falar de 8 1⁄2, la estrada, Roma, le notti di cabiria, Amarcord ou Satyricon, me sinto lisonjeado por poder tangenciar La Dolce Vita.


O filme, escrito por Fellini, Pasolini, Ennio Flaiano, Tullio Pinelli e Brunello Rondi, conta a história de Marcello (Marcello Mastroianni), um jornalista que vive entre os fotógrafos e celebridades no início dos anos 60, rodeado pela extravagancia e vazio existencial.

O roteiro talvez seja o que mais se realce a princípio, devido a sua estrutura pouco convencional e reformulação da estrutura dos três atos, a história nos passa bem como é estar em um momento atemporal e vazio. A estrutura reflete os conflitos do protagonista e essa é uma das formas mais singelas de se construir um personagem que parece realmente respirar. Sentimos durante todo o longa como Marcello é um personagem vivo, sentimos sua existência
através do texto e da belíssima atuação de Mastroianni.


Como Scorsese disse uma vez em uma de suas entrevistas, La Dolce Vita tem uma das cenas de abertura mais chamativas da história do cinema. Helicópteros que carregam a estátua de Cristo fazem parte de todo o peso que a religiosidade e a Cidade de Roma (sempre muito cultuada nos filmes de Fellini e fotografada excepcionalmente por Otello Martelli) geram no expectador. Entendemos a grandiosidade da obra desde seu primeiro Frame.

Tentar dialogar com a profundidade dessa obra em poucas linhas é cruel, cada escolhado diretor é um toque de gênio a parte. Poucos na história tiveram a audácia de filmar uma cenade término de relacionamento, cena que por sinal é muito importante para a história, por um ângulo em que mal se vê a face dos protagonistas. O ser humano se torna pequeno, engolido por um mar de superficialidade e impotência, isso, porém, se torna também belo, parte do ser
em geral.

O fim se torna então apenas o fechamento de uma história contínua, podendo ser apagada apenas pelo tempo com o qual os homens sempre lutaram. Marcello se vê frente ao mar, frente a uma garota que pode ser vista como a representação da inocência e pureza e sua atitude perante isso é uma bela reflexão de tudo o que se é pela forma da arte. Recomendar o filme é o que me resta fazer, aconselhar se deixar levar por uma obra completa, a obra prima
de um gênio.

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